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15/02/2010 às 12h15min - Atualizada em 15/02/2010 às 12h15min

Enem contestado no início criou dificuldades para algumas pessoas ingressarem na faculdade

Ronaldo Couto
Band Barra Ronaldo Couto é repórter e estudante de Jornalismo da UFMT

O resultado do Exame Nacional do Ensino Médio(Enem) criado para avaliar o nível do ensino brasileiro no antigo 2º grau virou também um vestibularzão para dar acesso às instituições de ensino superior.

Foram criadas ferramentas como SISU que muitos alunos ficaram em parafuso devido a sua lentidão e o método utilizado para apresentar a nota de corte e a média obtida pela candidato. Pois bem, terminou a primeira fase de matrículas nas universidades com a nota do Enem e lamentavelmente vimos que o sistema furou. E expôs um grave problema que o país vai ter que analisar.

O Enem ao mesmo tempo em que é propagado como um instrumento democrático para todos disputaram uma vaga na faculdade brasileira, ele expôs as diferenças e limitações de um estado para outro e se tornando também um objeto de exclusão. E não adianta querer provar ao contrário, porque vejamos a situação da UFMT. Um breve relatório expõe que 50% das vagas da Universidade Federal de Mato Grosso estão indo para outros estados. Isso é horrível e corremos o risco de revivermos o tempo da segregação racial ou social neste país.

Ainda sobre o método de concepção e aplicação da prova do Enem vejo alguns equívocos. Não podemos comparar que o ritmo, padrão de vida e renda per capita seja a mesma em todo o país.

Outra equivoco diz respeito à prova com 180 perguntas em dois dias de aplicação estava dando em torno de 3 minutos para responder cada resposta. Muito pouco esse tempo. Deveria ser um número menor de perguntas. Sem contar a redação onde muitos candidatos não conseguiram terminar a tempo.

Alguns burocratas serviçais tentam amenizar dizendo que o sistema é bom e que todos vão se adequar com o tempo. Sinceramente, eu não acredito nisso e vejo isso como uma balela. E justifico o porquê. A realidade que nós vivemos aqui é diferente de quem vive por exemplo no Piauí, no Acre, no Pará e concorrer da forma que concorremos 100% das vagas com estados populosos como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul foi praticamente um massacre.

É só pegar o número de aprovados de Mato Grosso com relação aos cursos de ponta. Somos incompetentes ou menos inteligentes do que eles ? Não é isso. Essa é a falha não temos como comparar o nível de vida que leva um brasileiro que more no Sul ou na região Sudeste do país com quem está no Norte ou Centro Oeste do Brasil.

Outros fatores corroboram com esse quadro: ritmo de vida, padrão escolar e renda per capita que são diferentes. Lá são mais pessoas que ganham mais e tem mais oportunidades de estarem em escolas melhores. Cada vez mais está mais difícil para o filho do pobre ingressar numa faculdade pública e de qualidade. Para nós aqui em Mato Grosso fica mais complicado porque nossas vagas foram leiloadas nos cursos mais procurados para outros estados.

O vestibular como era antigamente pelo menos obrigava aos estudantes de outros estados aqui comparecerem para fazer as provas aqui, entretanto o Enem rifou as vagas para os candidatos de outros estados.

O novo sistema de exame para as faculdades obriga aos candidatos que não obtiveram nota a migrar para cursos inexpressivos que não faziam parte dos sonhos deles ou parar de estudar ou quem sabe pagar uma faculdade. Será que esse era o objetivo. Agora os excluídos do Enem terão que fazer romaria nas particulares para conseguir uma vaga e aqueles que não tem dinheiro para pagar enfrentam outra mentira das bolsas de estudo. Engodo.

Quase sempre não tem bolsa suficiente para todo mundo e pagar como ? Muitos não tem dinheiro, emprego e agora assistem o seu estado entregar de mão beijada as vagas para outras pessoas.

Quero dizer com todo o carinho que sou admirador do presidente Lula desde a época que ele era metalúrgico em São Paulo e chegou ao posto mais importante deste país sem sequer ter um diploma. Na teoria, presidente, o projeto do Enem é maravilhoso mas na prática, permita-me Lula, o sistema é perverso e chega a ser de exclusão. Moro numa cidade de 55 mil habitantes como vamos concorrer com São Paulo de 11 milhões de habitantes e assim por diante. Senhor presidente, eu acredito que há tempo para corrigir essa situação e voltar o modelo do vestibular como era antes e dando mais oportunidade para quem mora no estado.

Temos que criar mais faculdades e abrir mais vagas para que todos possam conquistar um diploma e competir no mercado de trabalho de igual para igual. Dias atrás, presenciei uma conversa de um empresário sorrindo dizendo que matriculou o seu filho numa faculdade na Bolívia e de que dentro de 4 ou 5 anos ele será médico. E o meu filho. E os filhos do Brasil, presidente Lula. Como que vamos fazer. Nem todos tem dinheiro suficiente para bancar os estudos.

O Enem será justo quando todos tiverem a mesma chance de concorrer. Hoje ele pode ser um tremendo erro aumentando mais as diferenças entre o nosso povo. E mais uma ressalva para fechar, esse maior concurso do país promovido por Mato Grosso é uma prova disso. São 500 mil candidatos para 10 mil vagas, 65% dos inscritos são de fora (de outros estados). E infelizmente anote aí o que eu estou dizendo, a maioria, em torno de 60% das vagas deverão ir para candidatos de fora do estado.

Pegue o curricolo da maioria dos juízes, promotores, delegados, fiscais ou policiais e você vai perceber que a maioria é de outros estados. Fator competência, eu acredito que não. Eu atribuo as diferenças de um país imenso que deveria acompanhar o estilo da constituição federal dos Estados Unidos onde cada estado tem o seu próprio concurso ou legislação para o seu povo.

Pegue o numero de desempregados no Mato Grosso e jovens recém-formados sem perspectivas de trabalho e você vai concordar comigo sobre as diferenças. Defendo a criação de concursos estaduais e municipais para darem mais chance para quem mora na cidade ou estado. Eu fui vereador em minha cidade. Entre as mais de 5 mil proposituras que eu fiz consta a criação de concursos municipais. A lei tem que ser alterada lá em cima porque não podemos comparar a realidade do brasileiro do Sul, Sudeste com a de outras regiões do país.

Minha crítica é no sentido de corrigir injustiças e mostrar que vamos diminuir essas diferenças através da Educação mas para todos. Sem rifar ou leiloar as vagas da nossa querida UFMT para quem é de outro estado.


Ronaldo Couto é repórter correspondente do Olhar Direto em Barra do Garças e no Araguaia

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