Araguaia Notícia  Publicidade 1200x90
Araguaia Notícia  Publicidade 728x90
04/02/2011 às 12h05min - Atualizada em 04/02/2011 às 12h05min

Ele queria ser pediatra para salvar crianças

A história de um garotinho que apesar de suas limintações era um gênio

Ronaldo Couto
Família Saudades do garoto Alcione

A mãe de Alcione ainda chora e não se conforma com a morte precoce do filho, de 16 anos, que deu adeus antes de realizar o seu grande sonho: se tornar um pediatra. A história deste garoto vai emocionar todas as pessoas que pensam que a vida é difícil ou ingrata. Alcione Moreira dos Santos, nasceu em Bom Jardim de Goiás, com uma limitação física nas pernas e curvatura nas costas que o impediam de andar ou sentar como qualquer outra criança ou adolescente. Alcione jamais reclamou desta limitação. Ele cresceu, brincou, aprendeu e nos ensinou muito, pois o que seria dificuldade para qualquer de um nós, Alcione tirava de letra sem deixar a peteca cair.

Conheci Alcione, em 2007, quando ele estava com 13 anos. Naquela ocasião, a família pediu uma reportagem porque Alcione estava crescendo e precisava de uma cadeira especial e de um tratamento especializado em Brasília, no hospital Sarah Kubitscheck. Outro motivo para esse encontro inusitado, segundo a mãe dele, seria o fato que Alcione queria me conhecer de perto. Não sabia ele, que esse encontro seria mais marcante para mim que reconheci nele um garoto prodígio. Olha que eu já vi vários casos. Já acompanhei dramas de vários tipos ao longo da minha carreira de 25 anos na comunicação, mas esse mexeu particularmente comigo.

Não pelo fato dele estar numa cadeira de rodas ou atrofiado numa cama, mas pela firmeza que Alcione transmitia no seu olhar. Aquilo era realmente diferente. Eu nunca tinha presenciado uma situação daquela. Ele me olhava com admiração, respeito e nunca com compaixão ou pena de si mesmo. Alcione sempre cuidadoso com as palavras demonstrava outro dom maravilhoso: de conquistar as pessoas através da comunicação. Fruto de outra virtude dele, a paixão pela literatura. Alcione adora ler desde gibis, revistas e livros. Ele gostava muito de escrever e desenhar. E como qualquer criança de sua idade, ele não desgrudava de uma televisão, sua companheira inseparável de sala. Alcione curtia desenhos animados, filmes, novelas e telejornais. Quando os pais chegavam ele sempre contava o que estava acontecendo na cidade.

A maneira correta com que ele falava comigo revelava a personalidade de um garoto decidido que sabia o que realmente queria ser. Isso me surpreendeu porque normalmente quando a gente depara com uma pessoa presa a uma cadeira de rodas, logo se imagina uma pessoa deprimida e sem perspectiva, mas Alcione era diferente, a começar pelo sorriso que conquista qualquer pessoa. Ele falava com convicção dos seus planos para o futuro. Inicialmente ele se apresentou na matéria, depois falou da escola e dos amiguinhos e disse da sua vontade em ser médico. Resolvi perguntar porque ele queria ser médico ! Alcione me surpreendeu dizendo que a especialidade que ele escolheu é de pediatria, segundo ele para cuidar das crianças e descobrir a cura de certas doenças de garotos como ele.

Alcione fez o maior sucesso da reportagem ao ponto de conseguir uma cadeira de rodas, conseguiu o exame em Brasília onde esteve 8 vezes fazendo fisioterapia e havia esperança de fazer uma cirurgia para facilitar os movimentos dos braços. Várias pessoas se encantaram com a história de Alcione. E eu nunca mais me esqueci daquele olhar firme do pequeno Alcione. Sua voz firme e predestinada. Algo parecia movê-lo para fora daquela cadeira para externar ao mundo que é possível vencer, mesmo quando está deitado ou sentado. Seu coração já batia aceleradamente pra fazer o bem ao próximo. Sua intenção era evitar que outras crianças passassem pela dificuldade que ele passou ao longo da vida. O tempo passou. Alcione continuou estudando. Para ir para escola, esqueci de comentar esse pormenor, Alcione era transportado todos os dias numa Kombi. Ele era posto numa cadeia adaptada para acompanhar as aulas.

O sonho de Alcione foi interrompido numa pneumonia repentina no início do mês de setembro deste ano. Era noite a família estava recolhida assistindo TV quando ele começou a passar mal. A família pediu ajuda aos vizinhos. E Alcione fez a sua última viagem desta vez para o hospital. Alcione estava convicto de que voltaria. Ele pediu calma a mãe pedindo para que ela não chorasse e que tudo daria certo. Foram cinco dias de agonia. Infelizmente o pequeno gênio ficou mais fraquinhos e pela primeira vez ele sentiu medo de não voltar para casa e pediu à mão que não o abandonasse. Deitado num leito hospitalar, Alcione pediu à mãe que ficasse com ele e mãe mostrando forte não chorou e tranquilizou o filho que tudo daria certo ao final.

O medo de Alcione sentiu é o medo que qualquer um de nós sente na ânsia da morte, ele talvez sentisse que a hora de partir estava chegando. O coraçãozinho de Alcione não resistiu e parou de bater dia 06/09.

Foi um baque muito grande para a família que se revelou mais dependente do filho, do que realmente ele dos pais. A mãe Simone Gomes dos Santos e o padrasto Oswaldo de Jesus dos Santos preservam até hoje os objetos preferidos do filho como desenhos, livros e cadernos, cadeira de rodas e utensílios pessoais. A cama dele está lá intacta, nem a irmãzinha de 5 anos não quer dormir no quarto porque sente a ausência do irmão prodígio. Tudo continua limpo e guardado. Só as lembranças ficaram. A mãe fala do orgulho que sentia do filho. E diz que jamais esquecerá dele.

As pessoas que o conheceram , certamente dona Simone, também não o esquecerão porque ele foi um grande homem. Alcione será lembrado como um grande exemplo de perseverança e de luta. Porque a história dele não será em vão porque morrem as pessoas, mas perpetuam-se as histórias para a posteridade.

Ele conseguiu o grande objetivo que pretendia: curar as pessoas. Alcione conseguiu sim o seu objetivo, ele foi mais que um médico, ele se tornou um baita remédio para curar depressão ou qualquer tipo de tristeza. De uma cadeira de rodas, Alcione mostrou que é possível sonhar e mudar o mundo. Dentro do seu mundinho, Alcione conseguiu mostrar que podia ser médico ou até mesmo o medicamento para curar qualquer doença. Que Deus o tenha em bom lugar. Jamais esquecerei de você, Alcione. Ele provou que para querer basta acreditar.

Araguaia Notícia  Publicidade 790x90


Entre no grupo do Araguaia Notícia no WhatsApp e receba notícias em tempo real  CLIQUE AQUI
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Araguaia Notícia  Publicidade 1200x90