A Fundação Nacional do Índio (Funai) promoveu a visita de indígenas Kayapó, do Pará, a lavouras cultivadas pelas etnias Xavante, Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki, no Mato Grosso. O objetivo foi incentivar o intercâmbio entre os indígenas e permitir o conhecimento da agricultura de referência desenvolvida pelas comunidades do Centro-Oeste.
Na ocasião, os indígenas Kayapó conheceram o trabalho de três cooperativas indígenas: a Cooperativa Indígena Sangradouro/Volta Grande (Cooigrandesan), da etnia Xavante; a Cooperativa Agropecuária do Povo Indígena Haliti (Coopiparesi); e a Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki (Coopihanama).
Realizadas entre os dias 3 e 8 de abril, as visitas às lavouras e sedes das cooperativas contaram com a presença do coordenador regional da Funai, Raimundo Pereira Neto, que acompanhou a comitiva de indígenas durante a viagem de quase 2 mil quilômetros do município de Tucumã (PA) até Campo Novo do Parecis e Sapezal, no Mato Grosso. As lideranças Kayapó puderam conhecer de perto as lavouras de arroz, feijão, milho, soja e sorgo cultivadas pelas comunidades indígenas no estado mato-grossense.
“A Coordenação Regional Kayapó Sul do Pará participou efetivamente do planejamento do intercâmbio para que os caciques pudessem trocar experiências com os líderes indígenas Paresi a fim de conhecer o caminho das pedras da produção agrícola, aprender como iniciar projetos de agricultura e falar sobre a união entre as comunidades indígenas”, aponta o coordenador regional da Funai.
Neto relatou a importância das visitas e a troca de experiências. "Os parentes abriram as portas calorosamente e nos explicaram o percurso que eles fizeram para produzir. E os Kayapó vão levantar esses ensinamentos para aplicar na realidade deles", diz o coordenador regional da Funai. O cacique Beti, da Aldeia Gorotire, etnia Kayapó, resume a experiência do intercâmbio: “Tivemos várias informações e orientações. Entendemos que no início é muito difícil, mas vamos voltar para nossa terra e trabalhar para melhorar as nossas comunidades", afirmou.
Exemplo de produção As lavouras cultivas pelos Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki ocupam quase 20 mil hectares de um total de 1,3 milhão de hectares – ou seja, apenas 1,7% da área indígena é usada na atividade agrícola. A produção de grãos movimenta cerca de R$ 140 milhões ao ano.
Quatro cooperativas indígenas atuam conjuntamente nas lavouras. Juntas, elas movimentam a renda local a partir do cultivo de grãos em lavouras distribuídas em cinco Terras Indígenas: Paresi, Rio Formoso e Utiariti (etnia Paresi), Irantxe (etnia Manoki); e Tirecatinga (etnia Nambikwara). Aproximadamente 3 mil indígenas são diretamente beneficiados com o trabalho.
Projeto Independência Indígena O cultivo realizado pela cooperativa Xavante Cooigrandesan faz parte do Projeto Independência Indígena, que busca incentivar a produção sustentável em comunidades indígenas do Mato Grosso. Na última safra, os indígenas colheram cerca de 50 hectares de arroz. A intenção é plantar também, num futuro próximo, soja e milho em uma pequena área da Terra Indígena.
O Projeto Independência Indígena é uma parceria entre diferentes instituições como a Funai, o Governo do Mato Grosso, o Sindicato Rural de Primavera do Leste e a Cooigrandesan , e conta com o apoio de dezenas de caciques da região. Nas diversas ações, o projeto disponibiliza ferramentas e maquinários utilizados no plantio e colheita do arroz, bem como promove a capacitação de indígenas em operação de tratores e práticas de cultivo, beneficiando 57 aldeias.
Apoio da Funai O coordenador-geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento da Funai, Denis Soares, comentou sobre as futuras ações de apoio às atividades produtivas nas aldeias Kayapó e Xavante. “Após essa fase inicial, a Funai vai continuar assessorando ambas as etnias de forma que consigam implementar a produção de acordo com todos os ritos legais previstos e empreender de forma sustentável seus projetos produtivos”, ressalta Soares.
“Ao recebermos a demanda dos Kayapó, passamos a apoiá-los e orientá-los sobre as boas práticas imprescindíveis para uma ação virtuosa nessa proposta. Realizamos reuniões presenciais aqui na sede da Funai em Brasília e outras virtuais, de maneira que o processo foi sendo construído paulatinamente. Debatemos as propostas de promover a capacitação dos indígenas em áreas como gestão de negócio, cooperativismo e manejo. Para isso, podemos contar com a parceria da Emater, Embrapa e Senar”, explica o coordenador-geral.
Soares assinala, ainda, que o objetivo da atual gestão da Funai é oferecer todas as condições para que os indígenas atinjam um grau de maturidade suficiente para assumirem a condução de projetos sustentáveis que permitam gerar de renda, criar empregos e conquistar a autossuficiência.