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09/06/2014 às 17h25min - Atualizada em 09/06/2014 às 17h25min

Saudades de ti, Coutinho!

Jorge Maciel
Araguaia Notícia

Saudades de ti, Coutinho!

Lá se vão 12 meses, um ano de saudade inclemente. Conheci Coutinho – o chamava assim!- nos velhos idos de A Gazeta, quando fui editor-adjunto de Política e editor de ‘final de semana’. Chegava com Auro Ida, também falecido, sempre com novas, inquieto. No texto a sua especialidade, o gerúndio. De poucos li, na minha vida, textos tão perfeitos, diretos, milimetrados, leais às apurações que fazia. Começo, meio e fim! Reportagens com outra marca sua: credibilidade. Coutinho estimava a palavra, entregue à notícia, leal às suas fontes, sem críticas atrozes. Um repórter do tipo que “não dava trabalho para editor algum”. Minha primeira admiração por ele vem daí.

Sempre bem vestido, quando chegava exalava livros, de elegância sutil. Do convívio profissional veio a amizade. Quando morei na General Valle, Coutinho, vira e mexe, me aparecia com a cabeça ensartada na janela. Dalí, muitas vezes, íamos ao Zopapa, ou à pizzaria de frente, sob os mangueirais. Falava da família, da paixão pela Izabel, dos filhos Matheus, Lucca e Joaquim, todos ainda pequenos.

Eu, músico frustrado, me encantava com o violão do Coutinho, com as interpretações de Chico Buarque. Bom vivant, amava a boa música, boa comida, bons vinhos, jazz, blues, Ella Jane Fitzgerald, George Benson, B.B.King. Curtia Ritchi Blakmore, David Guilmoure, Eric Claptom, a banda Black Rio, Arthur Maia, mas o Marcos tinha mesmo era a predileção por Chico, talvez pelo tratamento refinado da palavra.

A força da lida nos separou, foi Coutinho p’rum lado, eu p’routro. Mas, Coutinho me encontrava assim, antes mesmo de saudar: “Se você quer mesmo saber porque qu’ela ficou comigo confesso que não sei...”, “Passas sem ver o vigia catando a poesia que entornas no chão”, de Chico, ou : “ (...) A lágrima clara sobre a pele escura, a noite, a chuva que cai lá fora, mas alguma coisa acontece no quando agora em mim (...)” de Caetano. Um certo dia me chamou para originalidade da frase do hino-samba Sampa: “é que à mente apavora o que ainda nem é mesmo velho”, pedindo minha atenção para o “a” “craseado”, que muda todo o sentido da frase. Ah ! Coutinho... Que saudade do papo-furado, do chopp gelado, confissões à beça, que saudade da sua energia!

E ele fazia isso com grande alegria, amável, sorriso inconfundível, singular,com o dedo indicador ajeitando os óculos.

Culto, com sabedoria incomum, falava de experiências adquiridas nas andanças pela Inglaterra, França, Alemanha, pela Europa, curtindo, mas aprendendo, reunindo saber. Falava de nobres, falava de mambembes. Como profissional, fazia [e levantava] uma grande matéria unindo cacos de fatos.

Trabalhou, cunhou, áureo, o nome, partiu para a iniciativa particular. Ajudou a compor o Midianews, foi diretor de Redação da Folha do Estado, consultor, e rumou para o Olhar Direto. Em vanguarda, foi primaz da cobertura segmentada do setor jurídico, impôs um estilo agressivo ao notíciário do seu site, abriu “cadernos’ com sucursais no interior e em Brasília, com o auxílio luxuoso e apaixonado de Izabel. E transformou o Olhar Direto num sólido grupo de comunicação.

Mas há 12 meses subiu, retido por Deus, e Izabel e os filhos dão direção à sua obra, levados pelo sentimento que a falta faz. Como um profissional lépido, Coutinho se foi ágil e ligeiro, como se nos encorajasse com a máxima de que passeamos no mundo e vivemos na eternidade. Coutinho, o querido, soube muito, muito mesmo, sagaz, inteligente, excelente, seleto, infrequente. Só não se tocou, que, indo, nos deixou a certeza triste de que o tempo não apaga e nem nos faz esquecer. O tempo, Coutinho, só atenua.

(*) Jorge Maciel é jornalista em Cuiabá

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