29/04/2021 às 10h47min - Atualizada em 29/04/2021 às 10h47min
'Pude puxar o fôlego da vida novamente', diz indígena que teve garganta perfurada por pássaro em MT
Eik Parikokoriu voltava de uma pescaria de moto quando foi atingido pelo pássaro. Ele percorreu 9 km com a ave presa ao seu corpo até chegar a aldeia, ferido, e receber atendimento médico.
O indígena Eik Júnior Monzilar Parikokoriu, de 23 anos, que teve a garganta perfurada por um pássaro, no último sábado (24), disse que sentiu muita falta de ar após o incidente e desmaiou assim que chegou na aldeia para receber atendimento médico.
“Eu tentava caçar o fôlego e não achava. Começaram a orar por mim e, quando terminaram, pude puxar o fôlego da vida novamente”, contou.
Eik voltava de uma pescaria de moto quando foi atingido pelo pássaro do tipo ariramba-preta, parecida com o beija-flor, em uma estrada vicinal na região da aldeia Águas Correntes, em Barra do Bugres (MT), município a cerca de 150 quilômetros de Cuiabá, no último sábado (24).
No dia do incidente, o indígena disse que tinha recebido um convite para cantar em um encontro da igreja, mas o ferimento na garganta o impediu naquele dia.
“Por incrível que pareça, fui convidado para cantar em uma igreja hoje e olha onde passarinho bicou”, disse.
Eik percorreu 9 quilômetros com o pássaro preso ao seu corpo até chegar, ferido, à sua aldeia para receber atendimento médico.
“Saiu muito sangue do meu nariz, do local [pescoço]. Senti que meu coração estava parando de bater. Eu senti a mão quente da mãe, chorando desesperada", contou.
O indígena disse que ficará com a carcaça do pássaro morto para ter uma recordação da nova chance que teve de viver.
Primeiros socorros
Após os primeiros socorros prestados pela família, Eik foi levado para atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS), que fica na própria aldeia. Lá, o pássaro foi retirado do pescoço dele.
Em seguida, Eik foi levado de ambulância até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Barra do Bugres.
A técnica de enfermagem Elizete Ariabo Calomezore, que fez os primeiros socorros na unidade, disse que nunca tinha atendido nenhum caso parecido.
Segundo especialistas, este primeiro atendimento da enfermeira foi fundamental para que a situação não se agravasse.
Ariramba-preta
O biólogo Vítor Piacentini, professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que também é ornitólogo (especialista em aves), disse que o pássaro é da espécie ariramba-preta — nome científico Brachygalba lugubris.
A ariramba-preta faz parte de um grupo de aves insetívoras (que se alimentam de insetos) chamadas de arirambas, mas que também possuem outros nomes populares.
Piacentini explicou que é comum que as arirambas e os beija-flores sejam tratados como "iguais", já que os dois grupos possuem bico comprido e têm plumagens brilhantes.
“Inclusive o nome cuitelo/cuitelinho é usado regionalmente pra beija-flores, e cuitelo/cuitelão para algumas arirambas. Mas as arirambas são maiores, não param no ar (nem voam pra trás), nem visitam flores. Elas utilizam o bico como uma pinça e capturam insetos no ar, saindo de um poleiro e retornando comumente pro mesmo poleiro”, explicou.
Ele também classificou o incidente como “totalmente inusitado e inesperado”.
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