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04/02/2020 às 16h57min - Atualizada em 04/02/2020 às 16h57min

Morre Asa Branca, o maior locutor de rodeios do país

Acompanhe essa bela homenagem ao Asa Branca pela Revista Veja. Um texto incrível com detalhes jamais contados antes na história deste grande personagem dos rodeios. Ele, que tinha 57 anos, pediu perdão por maltratar animais antes de sucumbir ao câncer de garganta

João Batista Jr / Revista Veja
ARAGUAIA NOTÍCIA


Após um longo período de tratamento e luta contra um câncer iniciado na região da garganta, morreu no começo desta terça, 4, o locutor Asa Branca, de 57 anos. Ele estava internado no Icesp, em São Paulo, onde deu a última entrada há duas semanas. Chegou em uma ambulância alugada por sua mulher, Sandra dos Santos. Inconsciente, ele não poderia imaginar que seria ali o fim de um vai e vem entre casa e hospital vivido ao longo dos últimos dois anos. Waldemar Ruy Dos Santos batalhou contra um câncer metastático na região da garganta, diagnosticado quase três anos atrás. A doença avançou para o cérebro, língua e pescoço.

Meu último encontro com o Waldemar Ruy dos Santos ocorreu no começo da noite de 19 dezembro, uma quinta-feira. No quarto 1803 do 18º andar do Icesp. O maior locutor de rodeios da história do país estava deitado em uma das macas do quarto. De pijama, olhos fechados e corpo protegido por um cobertor azul-marinho, naquele momento pesava 55 quilos e tinha a pele branca – resultado de uma crise de calafrio. A memória seguia intacta.

Asa Branca puxou o primeiro assunto: estava emocionado porque um de seus cinco filhos com cinco mulheres diferentes, a Lara, havia acabado de deixar o quarto. A menina retornara de uma viagem ao Estados Unidos e, antes de ir para São José do Rio Preto, onde mora, quis passar no hospital. Pai e filha tiveram uma relação de admiração, mas sempre à distância. Asa não esteve em mais de três festas de aniversário da menina. Com o tumor metastático e o agravamento do estado de saúde, Lara quis vê-lo. Um pediu desculpa para o outro pelos eventuais tropeços da relação. “Fiquei emocionado. Estou me sentindo leve”, me disse Asa Branca.



A visita foi um alento para um dia tumultuado. Pela manhã, as enfermeiras tentaram realizar uma broncoaspiração para tirar secreções do pulmão do paciente então com pneumonia. Tomada pelo câncer, a boca de Asa Branca não abria mais do que 2 centímetros. A tentativa foi em vão. Após dores e irritações, Asa Branca descobriu um câncer na garganta em março de 2017. À época, pesava 92 quilos. Ele chegou a fazer 33 sessões de radioterapia para debelar a doença. O câncer desapareceu por uns tempos, porém o tratamento deixou como sequela a perda total do paladar.

O homem que almoçava frango caipira três vezes por semana não distinguia mais o gosto de beterraba ou salmão. Entrou em processo de perda de peso e desânimo. O quadro se agravou em 2018, com a volta do tumor. Desta vez, na garganta, na língua, no pescoço e na cabeça. Asa Branca e sua esposa, Sandra, foram aos Estados Unidos tentar um tratamento novo. Não prosperou. Sentindo a morte se aproximar, ele quis retornar ao Brasil. Chegou pouco antes do fim de 2018.

O ano de 2019 foi bastante difícil, passado quase em sua totalidade dentro do apartamento de 60 metros quadrados alugado em Guarulhos. Ali, o homem outrora forte tomava doses cavalares de morfina para aplacar a dor. O diagnóstico dos médicos de que o caso era irreversível, que cirurgia ou quimioterapia não resolveriam, abalou o locutor. Diagnosticado com HIV há mais de dez anos e sobrevivente de uma criptococose, a doença do pombo, que o deixou seis meses internado e com um saldo de sete cirurgias na cabeça, ele sentiu que desta vez seria diferente.

Ao longo do ano, Asa Branca me ligou algumas vezes para falar estar pagando toda a dor que acredita ter causado aos animais. Queria pedir publicamente um perdão público. Foi quando, debilitado e com a voz fraca, marcou um encontro com a ativista Luisa Mell na Editora Abril, para falar sobre o assunto.
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