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10/11/2017 às 15h44min - Atualizada em 10/11/2017 às 15h44min

Mato Grosso e Pará querem chineses na Ferrovia do Vale do Araguaia

O Estado de S.Paulo
Os projetos ferroviários desenhados para dar um fim ao nó logístico que trava o escoamento de grãos do Mato Grosso e do Pará ganharam uma nova promessa. Não se trata da Ferrogrão, prevista para correr ao lado da BR-163, ligando Sinop (MT) a Itaituba (PA). Tampouco se refere à Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), que há décadas é esperada para cortar o Mato Grosso de um lado a outro. Com o apoio dos chineses, a nova aposta dos governos do Mato Grosso e do Pará é "Ferrovia do Vale do Araguaia", uma malha de 700 quilômetros que seria aberta ao lado das BRs-158 e 155.

Nesta semana, o governador do Mato Grosso, Pedro Taques, discutiu o projeto em Beijing, em encontro com diretores da China Communication Construction Company (CCCC). No mês passado, uma comitiva do governador do Pará, Simão Jatene, já havia passado por lá. Maior estatal do setor em toda a Ásia, a CCCC se comprometeu em enviar seus executivos ao Brasil nas próximas semanas, para detalhar a proposta e iniciar estudos técnicos da nova ferrovia.

"É um projeto forte e que não sofre interferência dos demais. A região Nordeste do Mato Grosso, de onde a ferrovia sairia, tem hoje cerca de 4 milhões de hectares de terras para ampliação da produção", disse ao 'Estado' o governador Pedro Taques.

A despeito do interesse chinês no empreendimento e assinatura de termos de intenção com governos estaduais, o fato é que o histórico recente dos projetos ferroviários para a região impõe uma grande dose de cautela e ceticismo. Há mais de uma década, discute-se o início de construção da Fico, ferrovia de 1.600 km que cortaria todo o Mato Grosso, ligando Vilhena (RO) a Uruaçu (GO), onde esses trilhos se conectariam à malha da Ferrovia Norte-Sul. Estudos de viabilidade foram concluídos. Processos de licenciamento ambiental foram iniciados. Depois de milhões de reais gastos nessas etapas preparatórias, a Fico continua guardada nas gavetas do Ministério dos Transportes.

Cansadas das promessas revolucionárias da Fico, as tradings de grãos Amaggi, Cargill, Bunge e Louis Dreyfus Commodities reuniram-se para apresentar um segundo projeto, a chamada Ferrogrão, prevista para correr ao lado da BR-163. Dispuseram-se a injetar dinheiro vivo no projeto, bancaram estudos, entregaram um plano detalhado para o governo. Hoje esse é considerado o empreendimento mais maduro para a região, mas a realidade é que já se passaram dois anos desde o início dos estudos e a Ferrogrão ainda não passa de uma ambição de papel.

Terceiro projeto ferroviário do agronegócio, a nova "Ferrovia do Vale do Araguaia" ainda não tem sequer estudos básicos que atestem sua viabilidade ambiental ou econômica. Os custos para lançar trilhos e dormentes nos 700 quilômetros entre Querência (MT) e Redenção (PA) também são uma incógnita. O preço médio das ferrovias, porém, indica que a obra não sairia por menos que R$ 12 bilhões.

São informações que levam o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Campos, a lançar todo tipo de dúvida sobre o projeto. "Infelizmente esse é mais um daqueles projetos mal estruturados, como a tal Ferrovia Bioceânica, que ligaria o Atlântico ao Pacífico. Estamos falando de um trecho sem porto, então seria necessário transbordo. Pode estar certo que não vai dar em nada."

O vice-presidente mundial da CCCC, Sun Ziyu, prometeu que fará uma visita ao Mato Grosso ainda neste ano. A empresa quer construir um terminal privado no porto em São Luís, em parceria com a WPR, braço do Grupo WTorre. Um termo de compromisso foi assinado entre as duas empresas em abril, com previsão de investimento de R$ 1,7 bilhão. "Os chineses estão investindo no País. Foram eles que nos procuraram sobre essa nova ferrovia. Estamos certos de que é um projeto competitivo e viável", diz Pedro Taques.

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