Um dos líderes da etnia Xavante defendeu esta semana o pagamento de indenizações para os produtores rurais que foram desalojados da área de 162 mil hectares da antiga fazenda Suia Missu, localizada na divisa dos municípios de Alto Boa Vista e São Félix do Araguaia.
As terras foram entregues para os índios, após um processo que tramitou por mais de vinte anos na justiça federal, segundo a associação dos produtores rurais da região, mais de sete mil pessoas tiveram que deixar as propriedades, parte foi transferida para um assentamento, outros não receberam nada.
O depoimento em favor dos produtores foi do indígena Tsumeywa Tserenhib/ro, neto do cacique Damião Paridzané, principal manifestante para ter as terras de volta. Segundo ele, o local mudou muito, mas não existe só área limpa, desmatada. “Ainda tem lugar que tem mato, alguma coisa que dá para ‘quebrar o galho’”, aponta. Além do mais, atualmente a Funai, segundo ele, providenciou projetos, alguns já em ação, com anuência do governo federal, para o reflorestamento. “É como se fosse um mundo novo, vai nascer tudo de novo, mas com a permanência dos povos tradicionais”.
Mesmo assim, Tsumeywa Tserenhib/ro lamenta a situação em que muitas famílias que moravam na área se encontram. “O erro não é nosso, não é dos que já moravam, o erro também não é do governo federal. O erro foi da Missão Salesiana. Foi ela que deu conhecimento para que aquelas terras fossem vendidas para multinacionais e depois devolvesse ao governo brasileiro”.
A líder conta que com o auxílio de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), cerca de 300 índios foram levados à revelia para a Missão Salesiana São Marcos, a 400 km de Marãiwatsédé. Dessa forma, para ele, o povo que vivia lá até 2012 não teve culpa de ter comprado a terra sem saber da realidade, por isso defende, inclusive, que o governo deveria indenizá-los dentro da capacidade do erário. “E nós também não temos culpa de a missão Salesiana ter removido nossos antepassados, esvaziado aquelas terras. Contando mentirinhas, falando coisas bonitas para os antepassados que se quer faziam noção da realidade, deslocando para outra terra”, avalia.