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17/01/2012 às 17h55min - Atualizada em 17/01/2012 às 17h55min

Mãe passa mais de 60 horas em fila para garantir vaga em escola pública

Noticias Municipios
Mayke Toscano

A aposentada Valdete de Sousa, 58 anos, passou mais de 60 horas na fila para garantir vagas para o filho e sobrinho, das 363 para o primeiro ano do ensino médio disponíveis na Escola Estadual Maria de Arruda Müller, o mais tradicional de Mato Grosso, com 132 anos de existência. Valdete é uma dos cerca de 500 pais ou responsáveis que passaram momentos difíceis na manhã de segunda-feira (16).

O dia oficial da matrícula na instituição estava marcado no calendário da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) para esta segunda, mas dona Valdete resolveu ficar na porta da escola a partir da tarde de quinta-feira (12) e foi a primeira a fazer plantão para conseguir as vagas.
A aposentada (c) Valdete de Sousa à espera da abertura do portão para garantir duas vagas


“Eu sei que todo ano é concorrido, então resolvi ficar na fila desde 13h de quinta (12) porque eu quero que meu filho e meu sobrinho estudem aqui de manhã”, disse.
 


Passaram-se sexta-feira e no sábado já havia mais de 300 pessoas dentro da quadra de esportes da escola. Uma lista foi formada e de três em três horas os pais faziam chamadas para eliminar quem ia desistindo de ficar horas a fio esperando por uma vaga.

Quando a situação ficou insustentável, já que a entrada e saída de pessoas estranhas eram constantes no colégio, a direção resolveu intervir.

“Na madrugada de domingo (1h) pedi que eles fossem embora porque o único vigia noturno me ligou e disse que se não fosse feita alguma coisa ele iria embora, então para resguardamos o prédio pedimos que eles fossem embora”, disse o diretor da instituição Alceu Trentin.

A esta altura a direção do Liceu Cuiabanio já havia autenticada a primeira lista com cerca de 200 nomes, mas os próprios pais que estavam fora do colégio nesta segunda disseram que havia mais duas listas. O diretor Alceu Trentin disse que teria até a quinta lista.

A confusão de tantas listas foi gerada porque no sábado, os pais, como dona Valdete, que ficou até a 1h do domingo e depois voltou, contabilizando 60 horas aguardando o início da matrícula, foram embora. No domingo (15), no período da tarde foram chegando outras pessoas e fizeram uma nova fila e outras listas foram surgindo.

Algumas dessas pessoas, alegando desinformação por parte da direção que não teria avisado sobre a primeira lista, disse que a situação de beneficiar nomes da primeira lista era injusta, já a direção diz que comunicou através de um cartaz todos os pais que estavam aguardando. Outros pais chegaram na manhã desta segunda-feira (16) para tentar a matrícula.

Com a confusão estabelecida, policiais do 10º Batalhão da Polícia Militar e da Força Tática foram chamados para conter o tumulto, no total 45 policiais.

“Estamos aqui para dar ordem e dar segurança tanto para os pais, quanto para os servidores da escola”, disse ao microfone a capitã Emirella Martins, comandante da tropa.

Para tirar o impasse de quem teria o direito as vagas, o Ministério Público e assessoria jurídica foram consultados pela direção da escola. “Vamos priorizar a lista espontânea organizada pelos pais que estavam aqui desde quinta-feira (12)”, disse o diretor Alceu Trentin.
Vigia atento à confusão do lado de fora do Liceu Cuiabano, que neste ano completa 132 anos

PREFERÊNCIA

Segundo muitos pais ouvidos pela reportagem, a preferência pela Escola Liceu Cuiabano Maria de Arruda Müller é porque atualmente a violência que assola as escolas dos bairros deixa os pais preocupados, assim como o ensino.

“Em escolas de bairros os professores faltam muito, outros pegam licença médica, não tem critério, os diretores até tentam, mas não conseguem por ordem”, disse Rawel Araújo, 47 anos, que tentava vaga para o filho. Rawel estava na segunda lista formada pelos pais e disse que chegou no domingo pela manhã.

Rubens Cláudio Araújo de Sousa, 37 anos, estava desde as 14h de sexta-feira para conseguir uma vaga para a filha. “Em colégio de bairro tem muita gangue”, disse. Para ele as escolas da Capital deveriam ter o mesmo modelo do Liceu Cuiabano.

Marialba Curvo, que trabalha há 23 anos na escola, disse que a escolha dos pais pela instituição é porque a disciplina é um ponto forte. “Aqui não entra na segunda aula, não deixamos vir sem uniforme, se ainda não tem camisa a coordenação empresta para aquele dia até que o aluno compre a sua camisa. Não deixamos entrar com short curto, briga aqui é muito difícil, e temos livros de ocorrências para que os pais saibam o que o filho está fazendo”, disse a assessora pedagógica.

A escola, fundada em 7 de março de 1880 no governo do general Enéia Rufino Galvão, completa neste ano 132 anos de existência. Na instituição já passaram grandes nomes da história do estado como o autor do projeto das Diretas Já! do ex-governador Dante Martins de Oliveira.

ALÍVIO
Depois de dias na fila Valdete consegue as duas vagas para o filho e sobrinho
Enquanto muitos pais estavam do lado de fora do Liceu Cuiabano brigando para poder entrar e garantir a vaga, às 10h55, quase três horas depois da abertura oficial da matrícula, Valdete de Sousa, a primeira da lista que foi validada pela equipe da escola, conseguia as tão sonhadas vagas para seu filho e sobrinho na escola mais tradicional de Mato Grosso.

“Agora estou aliviada”, disse a aposentada.

Para 2012, o Liceu Cuiabano Maria de Arruda Müller tem somente vagas para o primeiro ano distribuídas no período matutino com 91, vespertino com 132 e noturno com 140, totalizando 363 vagas.

EDUCAÇÃO

Atualmente o Estado conta com 727 unidades escolares em todo Mato Grosso. O início das aulas está programado para o dia 6 de fevereiro, serão mais oito unidades em atividade. Somente na Grande Cuiabá são 42, sendo sete exclusivas para o ensino médio.

De acordo com a assessoria da Seduc, as unidades que também tiveram filas (com proporção inferior ao do Liceu Cuiabano) foram Sousa Bandeira, no bairro Shangri-lá, André Avelino Ribeiro, no bairro CPA 1, e Bela Vista, no bairro Carumbé, todas em Cuiabá. Em Várzea Grande as escolas Adalgisa de Barros e Pedro Gardés, no centro da cidade também tiveram filas. 

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