28/02/2024 às 10h06min - Atualizada em 28/02/2024 às 10h06min

Relembre o caso de Rodrigo Claro, outro bombeiro que morreu em treinamento na Lagoa Trevisan

O jovem morreu após passar mal em um treinamento dos Bombeiros realizado na mesma lagoa em que morreu Lucas Veloso Peres, 27 anos, nessa terça (27).

REPÓRTERMT
A morte de Lucas Veloso Peres, 27 anos, durante treinamento de salvamento aquático do Corpo de Bombeiros, que estava sendo realizado na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, nessa terça-feira (27) resgata na memória de muitos um caso semelhante que ocorreu em 2016: a morte de Rodrigo Claro.  

Rodrigo morreu aos 21 anos. Assim como Lucas, era aluno do Corpo de Bombeiros e treinava para ser soldado da corporação. A morte dele foi confirmada no dia 16 de novembro de 2016, após ficar cinco dias em coma na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), do Hospital Jardim Cuiabá. O jovem passou mal supostamente por esforço excessivo, em um treinamento do curso realizado na Lagoa Trevisan, no município de Várzea Grande.

Lucas, por sua vez, já chegou ao hospital sem vida. A princípio, a principal hipótese para a causa da morte é que ele teria sofrido um mal súbito. Contudo, as investigações ainda estão no início.

À época da morte de Rodrigo, a tenente do Corpo de Bombeiros Izadora Ledur, que treinava a turma do Curso de Formação de Soldados, foi afastada dos treinamentos após ser acusada de perseguir e torturar Rodrigo.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, no dia do afogamento, Rodrigo se queixou de dor de cabeça no momento da instrução de salvamento aquático e após atravessar a lagoa a nado disse que não poderia continuar instrução, devido a dor. O jovem teria passado por uma sessão de afogamento, popularmente conhecido como "caldo".

No batalhão, o aluno continuou a se queixar de dor e foi levado para a Policlínica do Verdão. Em seguida, foi encaminhado para um hospital Jardim Cuiabá. Rodrigo morreu após cinco cias internado na UTI da unidade de saúde.

A princípio, o quadro de Rodrigo foi tratado como aneurisma cerebral, mas o laudo médico entregue à Polícia Civil descartou o diagnóstico, contestando as hipóteses levantadas por autoridades policiais, de que ele tinha alguma doença pré-existente antes de ingressar no Curso de Formação de Soldados.

No exame de necropsia, realizado também para descobrir a causa da morte, o Instituto Médico Legal (IML) apontou que Rodrigo foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e confirmou que ele não tinha doença pré-existente.

A família do aluno alegou que houve tortura e omissão de socorro por parte da instrutora, a tenente BM Izadora Ledur.

Medo da oficial

Leia tudo sobre o caso

No dia do treinamento, 11 de novembro de 2016, Rodrigo mandou uma mensagem para a mãe, Jane Patrícia Lima Claro, dizendo que estava "com medo" porque Ledur estaria na instrução de aulas práticas. A mensagem dizia ainda que a tenente o estava 'perseguindo'.

Na conversa por meio do aplicativo WhatsApp, Rodrigo afirmou que a tenente estava "pegando em seu pé". “E hoje ela vai tá lá. Por isso fico com medo”, escreveu o rapaz na mensagem. Em uma das mensagens ele disse ainda que estava “meio que prometido” e a sua mãe disse que tudo seria “somente pressão”.

Outros alunos relataram que a tenente cometeu uma série de excessos que resultaram até em fraturas e que Rodrigo teria sido submetido por ela a várias sessões de afogamento no dia 11 de novembro.

Um inquérito policial e militar foi instaurado para apurar se a morte foi causada por excessos aos quais o aluno teria sido forçado.

Inquérito

Acusada de tortura e omissão de socorro durante os treinamentos aquáticos, Izadora Ledur foi intimada a depor sobre a morte de Rodrigo. A tenente seria ouvida pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) no dia 02 de fevereiro de 2017, mas a defesa alegou que ela não foi notificada oficialmente pelo comando do Corpo de Bombeiros e conseguiu adiar o depoimento por duas semanas.

O Inquérito Policial Militar realizado pelo Corpo de Bombeiros isentou a tenente das acusações de ter cometido homicídio ou tentativa de homicídio, já que no não ficou caracterizado nenhum dos dois crimes. No entanto, o relatório apontou que os coordenadores do Curso de Formação de Soldados, tenente-coronel Licínio Ramalho Tavares, o tenente-coronel Marcelo Augusto Reveles e a tenente Isadora Ledur de Souza Dechamps, foram negligentes com a segurança do local, ao não disponibilizar uma ambulância e equipamentos adequados para primeiros socorros no dia do treinamento.

Já no inquérito policial, Izadora Ledur foi indiciada pelo crime de tortura contra o aluno soldado Rodrigo.

O Ministério Público do Estado (MPE) pediu a prisão preventiva da tenente, por crime de torturada, e destacou o perfil perverso da militar que chamava alunos bombeiros de lixo e aplicava castigos durante os treinamentos.

Em dezembro de 2017, as investigações contra a tenente foram suspensas. O então governador Pedro Taques alegou que a ação era necessária para que o Conselho de Justificação - que faz parte da Corregedoria do Corpo de Bombeiros - concluísse o próprio inquérito.

Em abril do ano seguinte, a tenente voltou a prestar depoimento. Mas ela só foi condenada por maus-tratos, sem perda do cargo, em setembro de 2021, cinco anos após a morte de Rodrigo.

No entanto, Ledur entrou com recurso afirmando que não teria havido dolo em sua conduta, ou seja, não havia a intenção de cometer o crime de maus-tratos. A tenente bombeiro se livrou do crime de tortura e pegou apenas 1 ano de “prisão” em regime aberto por maus-tratos.

Mas a Justiça Militar de Mato Grosso declarou extinta, em agosto de 2022, a punibilidade da sentença. A defesa da militar pediu a extinção da pena e argumentou que o tempo entre a data de denúncia e a publicação da sentença excedeu o lapso prescricional. Sendo assim, ela não precisou cumprir a pena.

O Corpo de Bombeiros também arquivou o processo disciplinar que investigou a tenente, pois o processo administrativo prescreveu após 5 anos.

Em janeiro de 2022, o MPE protocolou uma nova denúncia contra a militar por crimes de tortura, durante curso de formação da corporação, desta vez, contra o ex-aluno Maurício Júnior dos Santos. O caso corre na justiça.

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