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12/07/2022 às 15h46min - Atualizada em 12/07/2022 às 15h46min

Juíza cita risco à segurança alimentar e mantém gado em terra indígena do Araguaia

Magistrada havia determinado retirada até dia 10 de julho, mas mudou prazo até julgar mérito de ação civil pública

Araguaia Notícia com Capital Notícia
Foto / Reprodução - RD News
A juíza Federal Danila Gonçalves Almeida suspendeu a medida cautelar que determinava a imediata retirada de gado da Terra Indígena de Maraiwatsédé até que seja julgado o mérito de uma ação civil pública contra a Funai. Em sua decisão a magistrada destacou a situação de desamparo enfrentada pela comunidade e o risco à segurança alimentar das quase 2 mil famílias que vivem nas 13 aldeias indígenas.

“A realidade local da T.I. Maraiwtsédé é de inércia governamental na implantação de políticas públicas voltadas ao etnodesenvolvimento e à garantia da sustentabilidade das comunidades indígenas. Deveras, a questão trazida à apreciação judicial revela-se de elevada complexidade, com repercussão nos campos jurídico, social e financeiro, inclusive podendo repercutir na desnutrição dos próprios indígenas, face a já citada inércia governamental.”, considerou a juíza.

A decisão é da sexta-feira (08.07) em uma petição da defesa do cacique Damião Paridzané. Inicialmente, em fevereiro deste ano, a juíza havia estabelecido um prazo para que o gado fosse retirado da área até o domingo (10/07).

“Examinando atentamente a petição e os documentos já anexados aos autos, não há como se ignorar que, a despeito da ilegalidade dos arrendamentos de terras indígenas, ao menos uma parte do dinheiro arrecadado é, de fato, destinada à aquisição de alimentos pela comunidade indígena”, pontuou a magistrada.

A defesa do cacique, patrocinada pelo advogado Lélis Bento de Resende, argumentou que os arrendamentos contribuem com a diminuição das queimadas, acabam com desmatamento, auxiliam na proteção de nascentes e os recursos são utilizados para compra de alimentos e medicamentos para as famílias.

“Como a terra indígena não possui mata nativa, frutas ou roça, não há qualquer forma de prover o sustento desse povo sem a imediata ajuda de terceiros, seja do Estado, seja dos locatários. Nesse cenário, centenas de crianças morreriam de fome em curto período. O MPF ingressou com a ACP com o objetivo de compelir a União e a Funai a proverem o sustento dos integrantes da TI Marãiwatsédé, até que seja promovido ação para o sustento próprio dos mesmos. No entanto, o processo tramita há mais de 4 anos e inexistem medidas para efetivar o direito dos índios de terem uma vida digna e justa”, considerou o advogado.

Queimadas

Em junho, já foram registradas as primeiras queimadas na área. Pelo menos 140 hectares da terra indígena Marãiwatsédé foram destruídos durante um incêndio. O fogo foi registrado às margens da BR-158, entre os municípios de Confresa e Alto Boa Vista. As chamas foram controladas com ajuda da Brigada de Fogo.

Mesmo com o fim do incêndio a situação preocupa as lideranças indígenas, tendo em vista a proximidade do período de seca e os problemas advindos com o início das queimadas.

Isso porque o fogo impacta a biodiversidade da região e a saúde da população indígena. “A nossa maior preocupação é com a saúde, principalmente das crianças. Com as queimadas a fumaça sobe, acabamos respirando e adoecendo”, afirma o cacique Damião Paridzané.

De ocupação Xavante, a terra indígena Marãiwatsédé tem cerca de 165,2 mil hectares e fica no nordeste de Mato Grosso. A área é localizada entre os municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia.

Operação

Em março, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) e a Polícia Federal deflagraram a Operação Res Capta, com o objetivo de combater crimes de constituição de milícia privada, corrupção ativa e passiva, porte ilegal de arma de fogo, abuso de autoridade e crimes ambientais. O arrendamento da terra também é investigado na operação.

Estão presos desde o dia 17 de março o ex-coordenador da Funai de Ribeirão Cascalheira, Jussielson Gonçalves Silva, e os militares Gerard Maxmiliano e Enoque Bento. Em abril eles foram denunciados por corrupção, milícia privada, sequestro e abuso de autoridade.

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