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26/09/2021 às 09h39min - Atualizada em 26/09/2021 às 09h39min

Rio Araguaia está morrendo: água some totalmente em alguns canais do rio VEJA VÍDEO

Seca e degradação ambiental geram efeitos inéditos em determinados pontos do rio. Canal longo e largo secou totalmente em Nova Crixás (GO)

Galtiery Rodrigues / Metrópoles
Segurar as lágrimas diante dos efeitos da estiagem e da degradação ambiental em alguns pontos do rio Araguaia, um dos mais famosos do Centro-Oeste, tem sido tarefa difícil para pescadores e ribeirinhos que enfrentam uma das piores secas de todos os tempos.Um dos pontos vistos foi no rio Isabel da Paz, no município de Araguapaz, que fica próximo a Aruanã (uma das principais cidades turísticas do Vale do Araguaia). Do alto da ponte, via-se um pneu jogado na margem do rio e um jacaré boiando solitário no que, agora, mais parece um poço, devido à paralisação da água.



Região seca e quente

O Araguaia contorna a divisa oeste de Goiás. Ele passa, justamente, por uma das regiões mais quentes e secas do estado, além de ser uma área onde o agronegócio avança, com demanda crescente de água para irrigação, registros de desmatamento e usos variados da água nos afluentes do rio.

Os recordes de temperatura no estado, nos últimos dias, vêm de cidades que compõem o Vale do Araguaia. Uma delas é Aragarças, município por onde o rio passa e que faz divisa com Barra do Garças (MT). O município chegou a registrar mais de 42ºC na última semana, e está entre as cinco mais quentes do Brasil, conforme o Instituo Nacional de Meteorologia (Inmet).

Áreas inteiras de canais longos e largos, comumente tomadas pela água e repletas de peixe, estão na terra fofa e na poeira, algo inédito, segundo a população local. Na região da Viúva, em Nova Crixás (GO), pessoas chegam a passar de carro por um dos canais do Araguaia, onde, até há pouco tempo, corria o leito do rio e só era possível sair de canoa ou barco.

O extremo atingido pela seca no Araguaia neste ano é o retrato da combinação fatal entre desmatamento, assoreamento, degradação de nascentes, uso irregular da água e o consequente desequilíbrio ambiental. Essas causas são velhas conhecidas de moradores da região, empresários do agronegócio e do poder público. Revertê-las, no entanto, é o que já parece impossível.

Para o delegado de Meio Ambiente da Polícia Civil de Goiás (PCGO), Luziano de Carvalho, que já desenvolveu projetos de recuperação de nascentes e contenção de voçorocas ao longo do rio, o Araguaia atingiu um ponto de desequilíbrio, entre o que existe de demanda e ação depredatória e o que o rio tem para oferecer.

De frente para o canal totalmente seco, na região da Viúva, o aposentado Vanderlino Caetano Lopes, de 67 anos, não contém o choro. A afetividade que ele construiu com o rio ao longo de 50 anos de viagens, pescarias e, agora, como morador da região, expressa-se, naturalmente, diante da imagem que se formou com o sumiço da água.

“Eu penso nos meus netos, que não vão ver o que eu já vi. Eu conheci o Araguaia quando eu tinha 17 anos. Você vinha e tinha peixe grande que não existia linha que aguentava pegar ele. Hoje você tem a linha e não tem o peixe. A degradação é uma loucura”, diz ele, emocionado.

O tempo é o que permite a comparação, aos olhos dos mais velhos, e, também, é o que acelera a preocupação de todos, independentemente da idade. Imaginar como estará o rio que atrai turistas de todo o Brasil durante a alta temporada, no próximo ano ou ao final da próxima década, é inevitável. E o cenário não se mostra positivo.

Afluentes cada vez mais secos

A reportagem do Metrópoles foi até o Araguaia na quarta-feira (22/9). No trajeto entre Goiânia e Nova Crixás, já era possível perceber os efeitos da seca e da degradação que seriam encontrados no destino final. Eles se mostraram mais graves e nítidos, à medida que se aproximava da região.

Córregos e rios menores, afluentes ou que desaguam no Araguaia, estão secando. Geralmente, nesta época, eles sucumbem à estiagem e ao forte calor, e tendem a reduzir a quantidade de água. Moradores locais, no entanto, relatam uma severidade maior do problema em 2021.

Alguns desses rios, conforme o verificado pela reportagem do alto das pontes na estrada, estão com o leito totalmente interrompido, sem terem para onde correr. O nível da água reduziu tanto que os bancos de areia bloqueiam o curso d’água.

“É a revolta da natureza”

Na quarta-feira (22), quando a reportagem do Metrópoles chegou a uma das praias que se formou com a redução do nível de água do Araguaia, em Nova Crixás, um homem tentava construir um porto provisório, retirando areia de dentro do rio para, com isso, facilitar a saída de embarcações de pescadores. “É só Deus para nos salvar disso aqui”, dizia ele ao colega que o ajudava.

Adriano Alves da Silva, de 44 anos, é um ribeirinho, morador da cidade e que há 20 anos frequenta e trabalha nas margens do rio. Ele diz nunca ter visto a situação chegar ao ponto em que se encontra hoje. “Piora a cada ano. Esse canal aqui (aponta ele para o canal totalmente seco na região da Viúva), nessa época, eu passava nele, há uns anos, com água no peito. Agora, veja como está”, lamenta.

“É a revolta da natureza. E todo mundo sabe disso. O que o homem destruiu, jamais ele vai reconstruir novamente”, resume Adriano.



 

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