Um peão identificado como Osvaldo Leonardo, de 49 anos, conhecido como Paraná, foi encontrado morto em estado de decomposição na fazenda Capão de Palha no Pantanal, na cidade de Poconé. A Polícia Civil foi comunicada da localização no sábado (17) e um helicóptero precisou sobrevoar a região para ver as condições da estrada, pois a propriedade fica a 170 km da cidade. As equipes só conseguiram fazer o deslocamento nesta terça-feira (20).
Segundo informações da Polícia Civil, a Delegacia de Poconé recebeu as informações no sábado, quando o funcionário da fazenda foi até a unidade policial para comunicar a morte da vítima.
De acordo com o funcionário, o gerente ficava sozinho na propriedade e não conseguia contato com ele. Diante dos fatos, o funcionário locou uma aeronave para ir até a fazenda onde encontrou a vítima já sem vida, a 100 metros do imóvel, em início de estágio de decomposição.
Na ocasião, ele sentiu falta de uma pá carregadeira e observou somente o rastro na estrada. Ainda conforme o homem, Osvaldo não sabia operar a máquina e relatou que a porteira da fazenda estaria quebrada.
A propriedade fica a aproximadamente 170 km de chão de Poconé e é de difícil acesso. No domingo de manhã (18), duas viaturas da Polícia Civil e uma equipe da Perícia Técnica (Politec) se deslocaram até a fazenda, porém não conseguiram chegar ao local no mesmo dia devido às condições da estrada.
Diante dos fatos, foi feito contato com a equipe da Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) para ir até a propriedade. Os trabalhos iniciaram em buscas das melhores coordenada de pista, condições de pouso e logística, uma vez que também seria necessário preparar um trator para abrir o caminho de uma propriedade vizinha até a fazenda que o corpo estava.
Após todos os procedimentos, uma aeronave da Ciopaer realizou o deslocamento até a propriedade, na manhã desta terça-feira (20), às 8h, com a equipe da Politec, Instituto Médico Legal (IML) e o guia, que tomarão as primeiras providências necessárias, como perícia do local e recolhimento do corpo.
A Polícia Civil aguarda o retorno das equipes com o corpo para dar continuidade às investigações. A causa da morte também é apurada.
Proprietário de fazenda já foi condenado a pagar R$ 100 mil por condições de trabalho e agressão contra empregados
Em janeiro de 2020, segunda Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região declarou, por unanimidade, que o réu por Agnaldo Martins Rodrigues, proprietário da fazenda Capão de Palha, sujeitou trabalhadores a condições degradantes. O réu já chegou a agredir fisicamente seus empregados, além de fazer ameaças. Ele foi condenado a pagar R$ 100 mil por dano moral coletivo.
Várias irregularidades foram constatadas na fazenda Capão de Palha, entre elas a falta de registro em Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e condições indignas de alojamento - os trabalhadores ficavam no mesmo barracão, que não tinha portas ou janelas, e dormiam em redes. Também não tinham acesso à energia elétrica e a locais apropriados para as necessidades fisiológicas.
A fazenda não fornecia equipamentos de proteção individual e as testemunhas chegaram a declarar que se alguém fosse picado por uma cobra poderia até morrer no local, considerando a ausência de assistência médica e a dificuldade de acesso à fazenda.
Além disso, foi narrado que o fazendeiro constantemente ameaçava, xingava e até agredia fisicamente os empregados que exigiam seus direitos ou que queriam deixar o trabalho. Todas as vítimas confirmaram que na fazenda não havia água potável. Para beber, elas tinham que retirar água suja de poças.
As testemunhas ainda relataram a sujeição a uma jornada exaustiva de trabalho, que por vezes se iniciava de madrugada e terminava depois das 22h ou mesmo no dia seguinte. Na época, o MPT enfatizou que submeter uma pessoa a condições degradantes de trabalho configura trabalho escravo, "uma prática odiosa que deve ser rechaçada, tendo o Brasil se comprometido a extirpá-la de seu território".