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11/06/2021 às 16h17min - Atualizada em 11/06/2021 às 16h17min

Chef de cozinha perdeu o pai, a mãe e a avó para a Covid-19: 'vivemos um desespero'

André Vitaliano Ferreira Coelho perdeu os pais e a avó em um intervalo de 10 dias.

G1 MT
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O chef de cozinha e gastrônomo, André Vitaliano, perdeu a mãe, do pai e da avó para a Covid-19 em um intervalo de 10 dias, em Cuiabá.

"Com a contaminação dos três ao mesmo tempo, vivemos um desespero em busca de vagas de UTI", relata.

André soube da morte do pai sete dias após perder a mãe.

“Na missa de sétimo dia da minha mãe foi a morte do meu pai. Cinco dias depois, tentamos fazer um almoço para esquecer. O telefone tocou, era o hospital querendo falar com a gente. Já sabíamos o que era: a terceira morte que a gente tinha dentro de casa", narra.

A mãe do chef, Eliana Vitaliano foi vítima da Covid-19 aos 57 anos, mas deixou uma marca registrada, como coordenadora da Pastoral do Migrante de Cuiabá por 20 anos.

“Ela realizava sua função, não tinha sábado nem domingo, não tinha horário. A gente cobrava: 'mãe, fica em casa', mas ela sabia que se ela viesse, ficasse segura, alguma família, ou dez famílias de imigrantes não estariam. Então, ela se esforçava muito pra fazer seu serviço ainda dentro de uma pandemia”, conta Rafael Vitaliano, um dos irmãos.

Eliana era mãe de Rafael, do André e do José. A Covid-19 levou metade da família deles. O marido de Eliana, Roosivelt Coelho, de 61 anos, morreu sete dias depois da mulher, também por coronavírus.

A aposentada Nelzira Carvalho, de 80 anos, mãe de Eliana, morreu dez dias depois da filha.

As mortes da mãe, do pai e da avó ocorreram em um intervalo de 10 dias e todos foram internados na mesma época.

"Eu e meus irmãos temos a mania de falar que não éramos só nós os irmãos. Todo haitiano, venezuelano ou outro imigrante que encontramos pelo caminho nos falam: sua mãe era nossa mãe”, relata André.
O irmão dele, José João Vitaliano, diz que o momento mais difícil foi quando ficou com a avó no hospital.

"Estava 100% dos leitos de UTI ocupados. Então, dentro do Pronto-Atendimento, tiveram que improvisar uma UTI", diz o advogado.

Pelo menos nove hospitais referência para Covid-19 estão com lotação máxima no estado.

2ª maior taxa de mortalidade

A taxa de mortes por Covid-19 a cada 100 mil habitantes em Mato Grosso é a segunda maior do país. Os dados são de um levantamento feito pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), que aponta os índices de casos e mortes proporcionalmente ao número de habitantes.


Apesar de ser menor que na capital, com uma taxa de 259 mortes a cada 100 mil habitantes, ainda é a segunda maior do país e está atrás apenas de Rondônia, com 273 óbitos.

Especialistas afirmam que essa taxa de mortes em mato grosso, maior do que a do Amazonas, que sofreu um dos piores colapsos na saúde durante a pandemia no Brasil, é alarmante e é resultado de erros no enfrentamento à pandemia no estado.

Segundo Diego Xavier, epidemiologista da Fiocruz, a situação é preocupante.

“Se comparamos Mato Grosso, que é um estado com bons recursos financeiros, com outras regiões, não é razoável vermos esses números. O estado adotou medidas que, desde o início, temos dito que não funciona, como uso de kit Covid e medicamentos que não são eficazes contra vírus. E isso estimulou também a população acreditar que era uma solução para o problema", explica.

O especialista também compara a situação com o estado vizinho.

"Mato Grosso do Sul, além de ter uma taxa de mortalidade muito menor, tem um processo de vacinação muito mais acelerada do que Mato Grosso. Então, o estado precisa repensar estratégias de enfrentamento à doença", afirma.

Ele também afirma o quão preocupante é o estado estar com uma taxa maior que a do Amazonas, que tem uma escassez maior de recursos e distâncias maiores a serem percorridas entre os municípios para conseguirem leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Casos de Covid-19
Mato Grosso registrou 319 mortes em decorrência da Covid-19 e quase 15 mil novos casos da doença nos primeiros 10 dias de junho.


Isso representa uma morte a cada 45 minutos.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), entre casos confirmados, suspeitos e descartados para a Covid-19, há 433 internações em UTIs públicas e 393 em enfermarias públicas. Isto é, a taxa de ocupação está em 83,11% para UTIs adulto e em 45% para enfermarias adulto.

Até essa quinta-feira (10) já são 424.342 infectados pelo coronavírus e 11.330 mortos.

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