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26/04/2021 às 08h33min - Atualizada em 26/04/2021 às 08h33min

Mães denunciam torturas contra crianças e adolescentes durante abordagem da PM em MT

Além de tapas no rosto e xingamentos, a equipe teria mantido os meninos em posição de cruz, queimado uma das crianças com um isqueiro e feito eles correrem na praça

G1 MT
ARAGUAIA NOTÍCIA
Mãe disse que o filho, de 11 anos, teve a axila queimada com isqueiro enquanto era mantido em posição de cruz — Foto: Arquivo pessoal
Pelo menos nove crianças e adolescentes foram torturados por policiais militares durante uma abordagem na Praça JK, em Jaciara, a 148 km de Cuiabá, na noite de quinta-feira (22/4), segundo relatos de mães ouvidas pelo G1. Um boletim de ocorrência denunciando o caso também foi registrado na delegacia.

A Polícia Militar informou que está adotando as medidas legais para a apuração da denúncia e que um procedimento interno será instaurado para apurar a conduta dos policiais.

A Polícia Civil disse que a Delegacia de Jaciara investiga a ocorrência. Um dos policiais envolvidos também registrou um boletim de ocorrência negando as agressões.

Nas redes sociais, a professora Leninha da Silva, mãe de uma das vítimas, de 14 anos, gravou um vídeo expondo o caso. Os meninos estariam na praça jogando bola quando foram abordados pelos militares.

Conforme as denúncias, três policiais estão envolvidos. Além de tapas no rosto e xingamentos, a equipe teria mantido os meninos em posição de cruz, queimado uma das crianças com um isqueiro e feito eles correrem.

“Quem abaixasse era ameaçado e xingado. Quem cantasse o hino nacional corretamente poderia ser liberado. Até a tabuada perguntaram para as crianças”, contou.

Leninha disse ainda que ligou no celular do filho para chamá-lo para casa, mas ele não atendeu. Preocupada, ela disse que foi até a praça e encontrou os meninos em fileira com as mãos na cabeça.

“Meu filho nunca deixa de atender ou retornar. Se ele atrasa um minuto, me liga para avisar, mas nesse dia foi diferente. O policial pegou o celular dele. Eu ligava e ele não atendia. Meu filho disse que sabia quem estava ligando e que pediu para o policial atender, mas ele não atendia”, relatou.

Outra mãe, que não quis ter a identidade divulgada, disse que o filho, de 11 anos, está com medo dos policiais e que não quer mais sair de casa.

“Isso não pode ficar assim. Nós, como mães, queremos justiça, pois o que fizeram foi covardia. Eles torturaram as crianças. Nosso filhos não são bandidos”, disse.

Ao G1, o menino deu detalhes de como foi a abordagem.

“Chegaram e mandaram a gente colocar a mão na cabeça. Eles revistaram e depois começaram a bater em nós, fazendo nós ficar com os braços pra cima, queimando nós, batendo na minha cabeça. A salvação foi a mãe do menino que chegou, se não a gente tinha apanhado mais”, relatou. Segundo o estudante, os policiais recolheram todos os celulares que estavam com os meninos.

“Eles abusavam de nós, tiravam sarro. [O policial] Pegou o celular de todo mundo, mexeu nas conversas, na galeria. Ele falava que nós usava drogas, chamando nós de noiados, tudo isso”, contou. Segundo as mães, nada de ilícito foi encontrado no local. Nenhuma das crianças foi apreendida. O Conselho Tutelar também não foi acionado.

Os policiais teriam falado para a mãe Leninha, que esteve no local, que o grupo estaria depredando o patrimônio público.

“Pedi que me mostrassem o que quebraram, pois me responsabilizaria, mas não tinha nada. Eles não tinham mais argumentos e não esperavam que uma mãe iria aparecer. Queriam mesmo era brincar e torturas as crianças”, ressaltou.

A professora relatou ainda que encontrou o filho com o rosto vermelho e inchado.

“Senti no meu coração que alguma coisa estava acontecendo. Quando cheguei e ele [filho] me viu, disse que sentiu um alívio e que estava salvo. Naquele momento, eu só queria tirar meu filho de lá e tê-lo comigo”, relatou.
Além do filho, estavam dois alunos de Leninha no local, que a reconheceram.

“Quando falaram que fui professora deles um dos policiais, com deboche, respondeu que eles não tinham aprendido nada comigo. [...] Existem policiais maravilhosos que arriscam a vida para nos proteger, mas também têm esses três policiais que estão em Jaciara despreparados”, ressaltou.

Calúnia e difamação

Um dos policiais envolvidos procurou a delegacia de Jaciara e registrou um boletim por calúnia e difamação. Ele relatou que estava em trabalho de rotina de abordagem e que algumas pessoas, após encontrarem o carro a polícia, correram para a praça.

No boletim de ocorrência, ele relatou que uma pessoa que passava pelo local jogou "alguma coisa por cima do alambrado da praça" e também foi abordada, "sem demais alterações".

O policial disse ainda que a mãe de um dos abordados chegou no local alterada e que a equipe informou o que estava ocorrendo e continuou o trabalho de abordagem.

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