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16/03/2021 às 10h48min - Atualizada em 16/03/2021 às 10h48min

Contorno Leste da Br 158 no Araguaia é a famosa 'saída à brasileira' para um problema de décadas

O plano para a criação do Contorno Leste foi idealizado em 2006, pelo então secretário de Infraestrutura de Mato Grosso, Luiz Antônio Pagot

Diário de Cuiabá
ARAGUAIA NOTÍCIA
Até mesmo defensores da conclusão da pavimentação da BR-158, no Vale do Araguaia (Nordeste de MT), reconhecem a fundamentação da juíza federal em Barra do Garças (509 km a Leste de Cuiabá), Danila Gonçalves de Almeida, em suspender o tráfego no trecho da terra indígena xavante Marãiwatsédé, numa extensão de 110 quilômetros, a partir de 19 de janeiro de 2022.

Não se trata de isolar uma região ou a ligação de Mato Grosso com o Pará por aquela rodovia longitudinal, mas simplesmente de deslocar o fluxo dos veículos para o chamado Contorno Leste, que é uma espécie de meia-lua, que, se por um lado, aumenta o trajeto em 90 quilômetros, por outro, interliga à rede rodoviária nacional as cidades de Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada e Alto Boa Vista (no sentido Sul/Norte), que, com Novo Santo Antônio, formam um bolsão de isolamento urbano.

“É a redenção da nossa economia”, comemora o prefeito Elson Mará (PP), de Serra Nova Dourada, município com 1.678 habitantes. A rodovia, no trecho bloqueado pela magistrada, é trafegada desde 1968. Por ela, num trajeto de 803 quilômetros, Mato Grosso se liga ao Pará. Em seu leito mato-grossense, a BR-158 cruza Pontal do Araguaia, Barra do Garças, Nova Xavantina, Água Boa, Ribeirão Cascalheira, Porto Alegre do Norte, Confresa e Vila Rica.

Sua pavimentação é fragmentada em dois trechos: o primeiro, de Pontal do Araguaia a Alô Brasil, que é uma vila de Bom Jesus do Araguaia, nas imediações de Ribeirão Cascalheira; e outro, separado do primeiro por Marãiwatsédé, do trevo de acesso a Canabrava do Norte e à divisa com o Pará, em Vila Rica. No trecho do Contorno Leste, a BR-158 será coincidente com a BR-242, uma grande Leste-Oeste, que começa em São Roque, na Bahia, e cruza Mato Grosso a partir de São Félix do Araguaia, até Sorriso via Nova Ubiratã, no Norte do Estado.

O trânsito na área indígena é questionado por liderança da etnia xavante, Ministério Público Federal, Funai, Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e organizações não governamentais. Da decisão judicial cabe recurso, mas juristas não acreditam que haja reversão. Quanto a isso, tanto o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) quanto lideranças políticas da região concordam, mas o cumprimento da determinação da juíza Danila esbarra num quê da legalidade burocrática.

O trecho para onde o tráfego seria deslocado é formado por uma malha de rodovias estaduais de pistas estreitas, com parte do trajeto acidentado, e com pontes de madeira que não suportariam o vaivém das carretas que escoam soja da região para o Maranhão. O Dnit não pode preparar o trajeto para o deslocamento da BR-158, por se tratar de estradas estaduais, e o governador democrata Mauro Mendes, além de não contar com recursos orçamentários para tanto, não deverá autorizar investimento numa malha que será federalizada.

Federalização é a palavra-chave para a execução das obras paliativas, até que se possa conseguir recursos orçamentários ou emendas parlamentares federais para a pavimentação. Ocorre que o processo para federalizar rodovia é lento e há exemplo disso em Mato Grosso, no Chapadão do Parecis, com a BR-364; e de modo inverso, na BR-080, que foi estadualizada se tornando a MT-322, entre São José do Xingu e Matupá.

A ordem judicial é para o trancamento da rodovia. O prazo restante é de pouco mais de 10 meses. Mesmo com a concordância quanto à legalidade da decisão judicial, há chororô de produtores rurais, transportadores e sindicalistas rurais, a exemplo do pecuarista Fernando Tulha, que preside o Sindicato Rural de São José do Xingu. Por outro lado, os 15.320 habitantes dos três municípios que serão contemplados com o Contorno Leste vibram. O trancamento da rodovia ganhou repercussão nacional e, no dia 7 passado, o presidente Jair Bolsonaro usou suas redes sociais para falar sobre o fato.

Bolsonaro assegurou que o Contorno Leste será construído, mas não citou data para início da obra, por três razões: o trecho é estadualizado; não existe projeto nem licenciamento ambiental para a pavimentação; e, como se tudo isso não bastasse, não há recursos orçamentários para tanto. 

O plano para a criação do Contorno Leste foi idealizado em 2006, pelo então secretário de Infraestrutura de Mato Grosso, Luiz Antônio Pagot. À época, Marãiwatsédé era ocupada por posseiros e, somente em dezembro de 2012, houve a desintrusão da área, que a entregou aos xavantes.

Recentemente, numa reunião remota do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, com a bancada federal mato-grossenses, políticos e sindicalistas rurais do eixo de influência da rodovia, o senador Carlos Fávaro (PSD) defendeu sua estadualização, mas a proposta foi rechaçada por todos e, de modo mais incisivo pelo senador Wellington Fagundes (PL).

DISTÂNCIA – O deslocamento da BR-158 para o Contorno Leste, além de aumentar a distância das cidades ao Norte do mesmo com Cuiabá, as aproximará ainda mais de Palmas (TO), que é a referência para saúde pública, compras domiciliares e lazer de Vila Rica, Confresa, São José do Xingu, Santa Cruz do Xingu, Canabrava do Norte, Porto Alegre do Norte e Santa Terezinha.

Palmas, a Capital de Tocantins, fica a 470 quilômetros de Vila Rica por rodovia pavimentada, ao passo que aquela cidade dista 1.280 quilômetros de Cuiabá, com 125 quilômetros sem pavimentação no trajeto atual e que aumentará para 215 quilômetros sem asfalto.

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