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04/03/2021 às 12h11min - Atualizada em 04/03/2021 às 12h11min

Lockdown: uma simples solução para um problema complexo

Acompanhe um raciocínio interessante sobre essa situação que afeta todos nós

Bryan Ramos - colunista
ARAGUAIA NOTÍCIA


Parece ser consenso entre a maioria dos governadores e da população a simples observação de que ao impedirmos as pessoas de saírem de suas casas através do lockdown, conseguiremos diminuir o número de pessoas contaminadas, logo seria essa a medida menos prejudicial a ser tomada, uma espécie de “mal menor” em relação a falência dos pequenos negócios.

O problema é que a realidade nunca se mostrou simples, essa lógica ingênua de buscar resultados observando apenas a relação entre causa-solução é um dos maiores problemas atuais na elaboração de políticas públicas. Infelizmente, ao que me parece nossos gestores públicos ainda tomam suas decisões desta maneira, parecem ser incapazes de pensar de maneira sistêmica e constatar como diversos setores e problemas da sociedade são correlacionados.
 
Em 2020 um levantamento feito pelo SEBRAE mostrou que as pequenas empresas geram 54% dos empregos formais do país sendo o comércio quem concentra a maior parte das empresas, somando 41%. Além disso, aproveitando o tema do mês de março, o setor de serviços das médias e pequenas empresas é o que mais emprega mulheres, sendo 53% do total dos empregados.
 
Michael Levitt, professor da Universidade de Stanford e vencedor do prêmio Nobel de química em 2013, declarou seu polêmico ponto de vista a respeito do lockdown; “Eu acho que ele pode ter custado mais vidas. Pode ter poupado vidas que seriam perdidas em acidentes de trânsito, coisas assim, mas o dano social – violência doméstica, divórcios e alcoolismo – foi extremo” 
 
No dia 01 de março, o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), publicou em seu site uma “nota pública contra o lockdown”. O seguinte trecho pode ser lido na carta; “A restrição ainda maior de liberdade causa o aumento da incidência de transtornos mentais uso e abuso de álcool e/ou outras drogas, agravamento das demais doenças crônicas, além de prejuízo irremediável à economia [...] e por conseguinte, mais caos à saúde”. Ao menos, apesar do consenso da maioria, ainda existem algumas pessoas que tentam alertar sobre os riscos dessa medida.
 
No começo disso tudo, com tristeza ouvi os ditos especialistas defenderem uma falsa dicotomia entre saúde e economia, como se não existisse correlação entre esses dois pontos. Uma breve comparação dos índices da saúde nos países mais desenvolvidos ou uma rápida pesquisa das consequências das crises econômicas que já sobrevivemos sério o suficiente para qualquer leigo no assunto questionar essa grande falácia.
 
O ponto dessa discussão não deve ser somente a efetividade do lockdown, pois muitos fatores podem trazer diferentes resultados dependendo da região, por isso se faz necessário considerar também a eficiência (custo-benefício) dessas medidas. Poderia ainda aproveitar o espaço e discorrer como tal medida se mostra atentatória contra dos direitos fundamentais de nossa Constituição, mas palavras retiradas do próprio decreto como “toque de recolher” e "medidas impositivas” são autoexplicativas.
 
Então, qual será o custo do desemprego gerado pelo lockdown? Qual será o custo da fome gerada pelo desemprego? Qual será o custo das doenças geradas pela fome? Qual será o número de mortes geradas pelas doenças? E pelo estresse do isolamento? Qual será o prejuízo cognitivo nos jovens e crianças de uma geração que já não é das mais inteligentes?
 
Minha intenção não é argumentar contra a medida, mas sim evidenciar que talvez no longo prazo, o prejuízo social causado por esse tipo de medida pode ser maior do que o seu ganho imediato. Aproveito para deixar meus sentimentos às vítimas desse terrível doença que nos assola e as futuras vítimas indiretas que essas imposições poderão nos trazer.

Bryan Hisllas Rocha Ramos é formado em Administração com Pós-Graduação em Gestão Pública. Foi convidado para escrever semanalmente como colunista do Araguaia Notícia. 


 

 
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