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13/01/2021 às 21h53min - Atualizada em 13/01/2021 às 21h53min

Ex-assessora detalha abuso e revela que presidente do Indea retirou câmeras de sala em MT

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Em entrevista exclusiva ao FOLHAMAX, a estudante de Administração de Empresas, F.C.B.A relatou como ocorreu o assédio sexual sofrido supostamente pelo presidente do Indea (Instituto de Defesa Agropecuária), Marcos Catão. A denúncia ganhou a mídia nesta semana.

O caso tomou grande repercussão na imprensa por se tratar de um assunto extremamente delicado, envolvendo o presidente de uma das principais autarquias da estrutura do Governo do Estado. Apesar de ter vindo a tona na noite de segunda-feira (11), após veículos de comunicação terem acesso ao boletim de ocorrência, o fato, bem como o pedido de exoneração da vítima do cargo público, ocorreu em novembro do ano passado. 

Na conversa, a jovem relatou que teria ingressado no Indea como estagiária em setembro de 2019. Em janeiro de 2020, eles começaram a trabalhar juntos na Regional.   

Segundo ela, foi o próprio Marcos Catão, que havia sido nomeado recentemente presidente do Indea, quem pediu para ela ser sua assessora técnica, o que ocorreu em julho de 2020. F.C.B.A. alegou que o ex-chefe sempre dizia que admirava sua competência.  

A estudante universitária contou que nunca imaginou que passaria por isso por parte de Catão. Isso porque, antes dele se tornar presidente, enquanto ela ainda era estagiária, nunca houve qualquer tipo de assédio.

Ela contou que só depois que começou a trabalhar no gabinete da presidência o tratamento foi começando a ficar mais íntimo. “Ele começou a me chamar de meu amor”, afirmou. 

Na nova função, a jovem tinha acesso livre à sala da presidência e seu dever seria de cuidar dos papéis, organizar ofícios, mandar emails, fazer a tramitação de processos e de documentos referentes ao gabinete. Porém, após três meses de trabalho, o ex-chefe lhe passou novos deveres, como repor água dentro do frigobar e até mesmo ajudá-lo a escolher e pedir suas refeições.

Em uma quinta-feira, dia 12 de novembro de 2020, houve o assédio mais claro. A jovem teria entrado na sala do presidente com uma caixa de garrafas d’água que seriam colocadas na geladeira.

Eles conversaram sobre as eleições de vereadores e prefeito que ocorreria no dia 15. Depois, passou a fazer gestos obscenos, pegando em suas partes íntimas.

A situação constrangeu a jovem de 19 anos, que deixou a sala rapidamente. F.C.B.A. conta que poderia ter provas do assédio que sofreu, mas, meses antes, Marcos Catão mandou retirar as câmeras de sua sala. "Após o ex-presidente (antecessor de Marcos Catão) ter sido flagrado transando dentro da sala, logo quando ele (Catão) assumiu o cargo, exigiu que tirassem as câmeras", conta.

Após 5 dias, a jovem pediu a exoneração do cargo e registrou o boletim de ocorrência. Para ela, o mais difícil foi contar a situação aos pais. "O meu emprego era motivo de orgulho para eles, o cargo, o salário que eu estava recebendo e a oportunidade", assinalou a jovem, que se emocionou mais de uma vez na entrevista.

De origem humilde, F.C.B.A. confirmou que tem medo de sofrer represálias após o caso vir a tona. Porém, afirmou que está "aliviada" em tirar esse peso das costas e dar voz às mulheres que sofrem este tipo de violência. "Depois isso me trouxe segurança porque agora eu sei que estou protegida, afinal de contas se acontecer qualquer coisa comigo ele será o principal suspeito", colocou.

Veja a íntegra da entrevista: 

- Me conta exatamente como foi que aconteceu esse episódio, naquela quinta-feira, dia que você foi assediada dentro da sala do presidente que culminou no pedido da sua exoneração? 

- O que aconteceu foi que eu com frequência tinha que entrar na sala dele para escolher o cardápio do almoço dele, pra repor a água do frigobar dele e levar o café. Às vezes, inclusive, algumas pessoas pediam para eu limpar a mesa dele suja de comida. Daí nesse dia eu precisei repor a água. Aí quando eu entrei eu percebi que ele estava em uma reunião por vídeo chamada e assim que eu entrei na sala dele, vi que ele desligou o áudio da chamada. Eu estava com uma caixa de garrafinhas nas mãos e eu fui por no frigobar dele. Agachei e comecei a por as águas. Neste momento ele virou pra mim e me perguntou porque eu ficava usando máscara dentro da sala. Respondi que tinha que seguir as regras e também para evitar a contaminação com o coronavírus, afinal estávamos em época de pandemia e não queria levar ‘puxão de orelha’ da F, que era minha superior. Lá tinham regras e ela era quem me dava as ‘broncas’ quando necessário, como em qualquer serviço. Aí, quando eu me virei, fui perguntar a respeito das eleições, sobre um documento que eu estava precisando e daí, enquanto ele me respondia, começou a fazer os gestos. Ele acariciava o pênis com a mão por cima da calça. 

- Ele falava coisas obscenas?

-Não. Muitos sites publicaram que ele falava besteira pra mim, mas não. Ele continou respondendo a minha pergunta sobre as eleições, mas enquanto ele falava comigo fazia esse gesto. Eu fiquei super desconfortável, mas esperei ele terminar de falar, pois fiquei em choque. Eu já na porta, querendo sair e enquanto ele falava, continuava fazendo os gestos. E eu sem saber o que estava acontecendo, totalmente em choque, fiquei só olhando pro chão esperando ele terminar de falar. Assim que ele terminou, me retirei. Daí na hora do choque você não sabe o que fazer, porque é uma coisa muito difícil.

- Quando você contou para os seus pais?  

- Foi depois de três dias, pois eu precisava explicar para eles porque eu estava saindo do Indea. Eu estava totalmente transtornada com a situação e eu não consegui contar pra ninguém. Só contei para outra amiga minha do trabalho que também já tinha notado os olhares dele comigo e entenderia o que tinha acontecido.

- Você trabalhou no outro dia?

- Sim, mas foi muito difícil de trabalhar. Eu cheguei totalmente destruída e todo mundo notou que eu estava diferente. E eu não queria mais estar ali, porque eu sabia que cedo ou tarde eu teria que entrar na sala dele de novo e eu não estava conseguindo sequer olhar pra cara dele. Eu não estava conseguindo lidar com aquela situação. Nas minhas contas, inclusive, no mês de janeiro iam sair mais duas pessoas de férias e eu teria que ter ainda mais convivência com ele, entrar mais vezes na sala dele. Meu receio era que algo mais grave acontecesse. 

- Você pensou em fazer uma denúncia dentro do Indea? 

- Pensei, mas qualquer denúncia que é feita passa nas mãos dele. Não teria sentido. Eu não tinha orientação nem do que fazer.

- Então o caso aconteceu na quinta-feira, você trabalhou mesmo sem ter forças na sexta, mas quando você pediu a sua exoneração? 

- Foi na segunda-feira. Quando eu decidi que não ia voltar a trabalhar e que não ia ficar calada com essa situação. Então eu decidi contar para os meus pais, até porque eu não podia sair assim sem avisar. O meu emprego era motivo de orgulho para eles, o cargo, o salário que eu estava recebendo e a oportunidade. Então tive que contar pra eles o que havia acontecido.

- Na segunda-feira então você chegou decidida no Instituto? 

- Sim, eu cheguei apenas para protocolar meu pedido de exoneração e anexei o boletim de ocorrência, pois a delegada da Delegacia da Mulher me orientou agir assim. Eu apenas queria esquecer tudo que havia acontecido e procurar um novo emprego.

- F. uma dúvida, qual é a personalidade do presidente?

- Ele sempre me tratou muito bem. Sempre fez elogios sobre a minha competência e às vezes me chamava de meu amor. Porém, ele falava muito alto com outras pessoas, não respeita. E quando ele estava com raiva falava palavrões também e de fora da sala dele dava para ouvir os seus gritos. Uma vez, uma mulher que vivia em reuniões com ele saiu chorando da sala. 

- Sobre o posicionamento dele: o que você tem a dizer sobre ele ter falado que essa denúncia é “vazia”? Acha que é pelo fato de você não ter como provar por imagens ou mensagens?  

- Sim, exatamente. Após o ex-presidente (antecessor de Marcos Catão) ter sido flagrado transando dentro da sala, logo quando ele (Catão) assumiu o cargo, exigiu que tirassem as câmeras e fizeram isso. Então, eu não tenho como provar.

- F. porque quando eu te procurei com a denúncia na mão você não quis falar a princípio? 

- O motivo de me esconder é porque eu estou mexendo com uma pessoa que tem muito dinheiro e poder. E, conhecendo o temperamento dele, tenho muito receio do que pode acontecer comigo e com a minha família, pois eu uso transporte público e preciso andar sozinha. 

- E o que você tira de lição de tudo isso, após a exposição do seu caso? 

 - Eu acho que a minha geração está vindo com força e que não devemos nos calar. Não devemos aceitar esse tipo de acontecimento independente do medo.

- Qual foi sua reação depois que viu o seu caso exposto na mídia?

- Primeiramente, eu fiquei com medo. Mas depois isso me trouxe segurança porque agora eu sei que estou protegida, afinal de contas se acontecer qualquer coisa comigo ele será o principal suspeito. 

- A sua denúncia gerou repercussão no meio político. Inclusive, a deputada Janaina Riva replicou a denúncia e está exigindo providências do Governo do Estado, como você vê isso?

- Inicialmente eu fiquei desesperada e fui correndo contar para os meus pais. O desespero é pela proporção que as coisas estavam tomando. Mas fiquei muito feliz porque uma pessoa como ela, deputada estadual e que luta pela causa das mulheres, me abraçou e abraçou a causa. Eu só fiquei chateada porque eu não queria ser exposta. Tenho receio de que agora as pessoas procurem meu nome, tentem achar o meu perfil nas redes sociais.  

- A defesa do Marcos Catão te procurou? 

- Não, ninguém. Inclusive, li alguns comentários, nas matérias publicadas, mas não sei se é verdade que o sindicato do próprio Indea estaria oferecendo um advogado particular para que ele se defendesse a acusação.  

- E agora, o que você pensa em fazer em relação ao futuro dessa denúncias?

- Eu não tinha a intenção de tomar providências ou processar o Marcos, como disse anteriormente. Apenas protocolei o meu pedido de exoneração e algumas pessoas ficaram sabendo do caso, pois eu anexei o boletim de ocorrência no pedido, pois fui instruída pela delegada da Delegacia da Mulheres. Agora, com toda essa repercussão, acredito que eu vou  ser chamada para depor e vou procurar um advogado para me defender. Quero provar que isso realmente aconteceu, até porque eu não tinha nenhuma razão para inventar isso. Eu gostava muito de trabalhar no Indea, recebia bem e era uma questão de orgulho para mim e para minha família.

Fonte: Fernanda Renaté / Folhamax



 
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