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10/08/2020 às 15h52min - Atualizada em 10/08/2020 às 15h52min

Infectologista afirma que MT está no platô da Covid-19 e incidência deve ser manter alta por mais 2 meses

Segundo Abdon Karhawl, depois de um mês de pandemia agressiva em julho

Suzi Bonfim / PNB on Line
ARAGUAIA NOTÍCIA
Christiano Antonucci / Secom-MT


O médico infectologista Abdon Karhawl, consultor do governo de Mato Grosso no Gabinete de Situação da covid-19, afirma que o Estado atingiu o platô da pandemia do novo coronavírus e deve permanecer neste patamar por pelo menos dois meses. Só a partir daí terá início a queda lenta e gradativa da contaminação que neste domingo (09), de acordo com o boletim da Secretaria de Saúde de Mato Grosso (SES-MT), chegou a 63.680 casos confirmados da doença e 2.147 óbitos em decorrência do novo coronavírus. A maioria dos casos está em Cuiabá, com 13.638 doentes e 617 mortos registrados até agora.

Em entrevista ao PNB Online, Abdon Karhawl foi incisivo e apontou que a pandemia ainda não acabou e os riscos são de aumento de casos com a flexibilização das restrições em vários municípios, no início deste mês. Confira os princiais trechos da entrevista. 

PNB Online - A abertura do comércio de essencial e não essencial contribui para este avanço, principalmente, em Cuiabá e Várzea Grande?

Abdon Karhawl - A reabertura das atividades está diretamente ligada ao comportamento da incidência da doença no estado. Você precisa abrir porque as pessoas não podem ficar paradas, não há dúvidas sobre isso, só que essa abertura precisa ser muito bem elaborada e estrategicamente organizada para que não haja novos picos, novas ondas de infecção. Se for feita uma abertura das atividades sem o cálculo correto e deixar as pessoas que ainda estão suscetíveis ao contágio do vírus, aumentará a incidência novamente. É preciso ter cuidado com isso. Então, temos que ter um modelo de queda da incidência com o número de contágio menor para que se possa liberar as pessoas com mais segurança para suas atividades.

PNB Online - Durante quantas semanas o número de casos pode continuar em alta. Há uma estimativa?

Abdon Karhawl - Se nós formos olhar o país, alguns estados estão à frente de Mato Grosso, como o Amazonas e o Pará, que têm uma curva mais definida da evolução de casos. Você pode observar nestas curvas que quando ele (o coronavírus) chegou no platô de contaminação, no pico da doença, ainda se demora uns dois meses neste patamar. É um tempo longo ainda, para depois termos uma descida significativa de casos. 

PNB Online - Ainda de acordo com o boletim da SES-MT,  23 municípios estão na classificação de risco “alto” para a disseminação do coronavírus distribuídos em quase todo o estado, desde cidades de grande porte a menores, como Ponte Branca e Planalto da Serra. O que isso representa e qual a estratégia mais adequada neste sentido?

Abdon Karhawl - Esta situação de alto risco indica o aumento no número de casos, sem dúvida nenhuma. A questão da contaminação é a suscetibilidade da população, ou seja, as pessoas que ainda não tiveram contato, se não conseguirem ter isolamento social acabam sendo infectadas. Isso gera um número maior de casos e de riscos de complicações.O que pode ser feito é adotar medidas não farmacológicas para tentar conter o vírus como o uso de máscaras, a higiene frequente das mãos, o distanciamento de 1,5 metro entre as pessoas pelo menos e a etiqueta de tosse (cobrir a boca com o antebraço). São atitudes que ajudam a diminuir a disseminação da doença. 

PNB Online - De acordo com o boletim da Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso, de sexta-feira (07), quatro cidades ainda estão classificadas com risco muito alto de contaminação da covid-19: Sorriso, Barra do Garças, Paranatinga e Arenápolis. O que as autoridades sanitárias devem fazer neste caso?

Abdon Karhawl - Nas cidades de risco muito alto o que nós temos de evidência científica é isolamento social. Não tem outra opção. Se conseguirem fazer o isolamento, ter distanciamento e a retomada das atividades com segurança, com o afastamento das pessoas, é possível que se controle um pouco a infecção. Senão, não vamos controlar porque são as medidas plausíveis para se poder conter. 

PNB Online - Mato Grosso ultrapassou a casa dos 60 mil casos confirmados de covid-19 e o número de mortes, segundo o último boletim da SES-MT, chegou a 2051 óbitos em decorrência do novo coronavírus. Chegamos no pico de infectados?

Abdon Karhawl - Provavelmente sim, chegamos no pico desta fase da evolução da pandemia no Estado. Agora, a gente vai ter este platô. São semanas de vários casos sendo registrados e depois uma queda. Normalmente, essas quedas são mais lentas do que a subida.   

PNB Online - Como o senhor avalia a evolução da doença, principalmente, no mês de julho quando chegou a ser registrado mais de 50 mortes em 24 horas em algumas semanas?

Abdon Karhawl - O mês de julho foi muito ruim com uma incidência de mortes muita alta em decorrência da pandemia muito agressiva no estado. Um mês muito triste, famílias em luto, a gente sente muito tudo isso. Infelizmente, tivemos que passar por esta situação. Ainda estamos lutando contra a doença, ainda não acabou, então, estamos nos hospitais, nas unidades de saúde tentando tratar as pessoas da melhor maneira possível para que elas saiam desta fase e sobrevivam. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e instituições estão trabalhando em prol do controle da doença. Estamos entrando em agosto, vamos ficar semanas nesta situação e temos que tentar controlar este processo de disseminação. 

PNB Online - O estado e prefeituras estão distribuindo o chamado kit covid-19 com ivermectina, cloroquina e hidroxicloroquina, entre outros, sem aval da Anvisa. Não é um mal investimento?

Abdon Karhawl - O “kit covid” é composto por medicamentos que são prescritos por médicos. O que acontece é que o gestor público gera uma situação de facilitar acesso e quem atende é o médico, ele vai examinar o paciente, usar os recursos propedêuticos que precisa e definir qual a medicação que ele prefere utilizar. Alguns estados compraram a medicação pra deixar em estoque para a atenção primária. Então, no final da história, quem vai decidir usar ou não é o médico e o serviço público dá a retaguarda tendo a medicação para o setor privado, inclusive.
 
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