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05/08/2020 às 15h55min - Atualizada em 05/08/2020 às 15h55min

Morre cacique mais famoso de Mato Grosso que foi tema de novela no regime militar

A novela Aritana começou a ser exibida na Tv Tupi e devido a divergência com o povo indígena, o governo federal mandou parar a novela

Araguaia Notícia + Xapuri
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Aritana em 2020 vítima de Covid


O cacique mais famoso e conhecido do Parque Nacional Xingu, Yawalapiti Aritana, morreu nq quarta-feira (5/8) em Goiânia em consequência do Covid-19, aos 74 anos. Ele enfrentava problemas respiratórios devido ao vírus e foi internado no hospital de Canarana (MT).

Devido também a hipertensão, Aritana não resistiu e faleceu deixando uma grande lacuna junto ao povo indígena de Mato Grosso. Aritana tem seu momento de fama também no final da década de 70 quando a extinta Tv Tupi fez uma novela baseada na história do povo indígena do Xingu cujo título era Aritana.

Só que a exibição da novela criou um desentendimento entre as etnias do parque na época e por decisão governo brasileiro na época (regime militar) decidiu parar a novela. Em 1998, o repórter Ronaldo Couto entrevistou Aritana durante uma cerimônia do Quarup no Parque Xingu. 

Foram três dias lá no parque isolado de tudo e de todos convivendo com a cultura dos índios. E nesse ambiente, Ronaldo Couto ficou sabendo de mais detalhes sobre a história do cacique Aritana. 

Ele é da aldeia Yawalapiti, no coração do Parque do Xingu, a cerca de 8 km do posto Leonardo. Ele não queria deixar a terra indígena porque os xinguanos temem as condições dos hospitais da região, onde não há UTI (Unidade de Terapia Intensiva), e também da capital de Mato Grosso, Cuiabá, onde a pandemia levou ao colapso de unidades hospitalares, porém foi convencido a viajar. De Canarana seguiu para Goiânia, mas os pulmões comprometidos forçaram o grande Aritana fazer a passagem.

Tapi, seu filho, conta que o Cacique Aritana estava muito preocupado com o avanço do Covid no Xingu.

Após a morte dos seus parentes, Aritana iniciou uma campanha para arrecadar fundos e levar cuidados médicos para essa terra indígena, que não tem recursos ou remédios para atender os pacientes mais graves, disse Tapi.

A ideia era tentar “montar um hospital de campanha ou comprar remédios, porque sem remédios no posto de saúde da vila, como o médico vai tratar febre, dor de cabeça, diarreia e dores no corpo?”, questionou.

Aritana, o guerreiro, não teve tempo de fazer o pretendido e o governo tem se furtado a cumprir seu papel de cuidar dos povos originários, dos povos indígenas. Se não enfrentam mineradores, destruidores da floresta, encontram um inimigo atroz, o Covid-19, que veio do exterior e para o qual não possuem nenhuma imunidade.

Que o  Cacique seja recebido em grande festa do outro lado: añu naku; añu taku.

Que  os apapalutápa permitam seu cortejo fúnebre como ele sempre imaginou: no centro de sua aldeia.

Xamãs, pajés, familiares de sua putaka,  parentes e caraíbas lamentam sua partida, Cacique Aritana!

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Repórter Ronaldo Couto, do site Araguaia Notícia, participando do Quarup de 1998 no Parque Nacional do Xingu. Na segunda foto, Aritana está de costa olhando para o cinegrafista da Alemanha e para o repórter Ronaldo Couto.
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