A escola Tatu de Barr ado Garças construída em 2007 virou atração na rede social nos últimos dias. Várias reportagens enaltecem o formato da escola que lembra um tatu e presta homenagem ao povo xavante. Pode parecer que não mas já são 13 anos da construção da escola que continua funcionando mas não está recebendo alunos neste momento devido a pandemia.
Essa é a única escola no formato de tatu de que se tem notícia no planeta, a estrutura foi concebida em um projeto do professor Máximo Xavante, que sonhou com a obra. Responsável por executar o projeto, o ex-prefeito Zózimo Chaparral (PCdoB) conta como recebeu a proposta e buscou tirá-la do papel:
“O índio Máximo Xavante, professor da aldeia, teve um sonho de uma escola no formato de tatu, porque o tatu tem uma importância muito grande na cultura do povo xavante, tanto na culinária, quanto na representação da força de um guerreiro. E ele levou essa proposta pra mim, juntamente com a então secretária de Educação, Fátima Resende, que se empenhou muito nesse projeto”.
Os recursos para a construção da escola vieram de uma emenda parlamentar do então deputado federal Carlos Abicalil (PT-MT), junto ao ministério da Educação, na época comandado por Fernando Haddad, em um período no qual o governo do ex-presidente Lula passou a investir fortemente na educação.
“A escola foi construída com participação da comunidade, o local foi decidido por eles, tendo em vista a posição do sol e a proximidade de nascentes. Os mais velhos foram consultados”, relata Chaparral.
A cabeça do tatu, apontada para o leste, ilumina a mente e concentra a sabedoria humana, e é ali que fica a biblioteca. O tronco do tatu concentra salas de aula e diretoria. A barriga do tatu é a cantina, onde é servida a merenda escolar. Já o rabo do tatu são os banheiros da escola.
Ao todo, foi investido cerca de R$ 1,1 milhão, mas não apenas para construir a Escola Tatu. Outras quatro novas escolas, em formato de colmeia, também foram erguidas nas aldeias da reserva, além da reforma de todas as demais escolas.
“A gente buscava tratar o uso do recurso público com muita seriedade. Com pouco mais de R$ 1 milhão, foram construídas 5 novas escolas e reformadas algumas outras. É um investimento pequeno quando você pensa que R$ 1 milhão pode ser o valor um de apartamento na área mais nobre de uma cidade como Brasília, por exemplo”, afirma Chaparral. Os novos prédios passaram a servir não apenas como escola, mas como espaços multiuso, como locais de confecção de artesanato pelas mulheres indígenas.
A construção da escola também marcou, na época, a aprovação do projeto político-pedagógico de educação indígena em Barra do Garças. Foi uma das primeiras cidades brasileiras a consolidar o projeto. Mais de 300 crianças indígenas passaram a receber alfabetização completa bilíngue, em português e na língua xavante, com professores indígenas, nos moldes do que preconiza a Constituição Federal de 1988, assegurando a educação indígena com base em sua história e valores culturais ancestrais.
Ao fazer um balanço histórico desse período, o ex-prefeito Chaparral gosta de citar o nome das pessoas que foram fundamentais para a realização desse sonho.
“Além do professor Máximo Xavante, idealizador da escola, foram muito importantes as participações dos líderes Agnelo Xavante, Cristóvão Xavante, Stanislau Tsirobo e dos caciques Aniceto, Raimundo e Manoel, além, é claro, do empenho da então secretária municipal de Educação Fátima Resende, da secretária municipal da Igualdade Racial Dolores Milhomem e do deputado Abicalil”.
Quando se recorda da concretização do sonho Xavante, Chaparral também analisa o contraste daquele período com o que o Brasil vive hoje. Lembra que as políticas de atenção aos povos indígenas estão cada vez mais sucateadas e completa:
“Vivemos, durante o governo Lula, um período de ascensão das políticas de inclusão social e garantia de direitos das comunidades mais vulneráveis. Tudo isso procuramos reproduzir na gestão municipal, com a implantação de projetos educacionais, mas também esportivos, como o programa Segundo Tempo, que chegou nas aldeias indígenas, por exemplo. O que vemos hoje é o exato oposto disso, um projeto de destruição social e apagamento das culturas tradicionais. É preciso enfrentar esse projeto destruidor que representa”.