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15/06/2020 às 08h43min - Atualizada em 15/06/2020 às 08h43min

'Eles foram covardes', diz filho de paciente que tomou remédio falsificado para tratar câncer

Suspeitos de vender os produtos falsificados a hospitais de nove estados foram presos.

G1 MT
ARAGUAIA NOTÍCIA
A família de Ozeas Camacho Silveira está indignada com a falsificação do remédio usado por ele para tratar um câncer. A polícia prendeu suspeitos de vender a medicação adulterada para nove estados, incluindo Goiás. O paciente morreu em março de 2019. “Eles fizeram covardia. Eles foram covardes por causa de dinheiro”, disse o filho da vítima, Ozeas Camacho Júnior.

O idoso era trabalhador rural e tratava um câncer no rim. A família contou que o tratamento estava dando certo até o final de 2017. Porém, no começo de 2018 o quadro de saúde dele piorou. Laudos apontaram que um dos medicamentos que ele estava tomando era falsificado. A família disse que nunca foi avisada do problema.

“Se fosse uma morte normal, quando ele tentou tudo que era possível, aí é mais aceitável, mas você aceitar uma coisa que é inaceitável é difícil, não dá, não desce”, disse o filho do paciente.

O remédio que deveria ter sido usado era o Sutent. Porém, foi constatado que as cápsulas tinham, na verdade, vitamina. Segundo as investigações, o Instituto Goiano de Oncologia (Ingoh), onde o trabalhador rural fazia tratamento, recebeu medicamentos da empresa House, apontada como responsável pela distribuição dos produtos falsificados.

Em nota, o Ingoh disse que também é vítima na situação e que comprou apenas uma caixa da remessa falsificada, do lote 189EE. A aquisição foi feita por meio de uma plataforma que é a responsável pelo controle dos fornecedores. O remédio foi usado em novembro de 2017 e, nos dois meses seguintes, foram ministrados outras duas caixas normais do medicamento.

O Ingoh disse ainda que a falsificação foi descoberta pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março de 2018. O hospital ressaltou que o paciente deixou de fazer tratamento na unidade em novembro daquele ano. A morte do paciente aconteceu mais de um ano depois de ter tomado a medicação falsificada.

Porém, a família disse que Ozeas recebeu outro lote falsificado, o 191EE. Essa segunda caixa foi analisada e foi comprovado que, ao invés da substância para tratamento do câncer, tinha vitamina E.

O Ingoh reforçou que não comprou nenhuma caixa do medicamento do segundo lote citado e que foi analisado.

Prisão

Cinco pessoas são suspeitas de envolvimento na falsificação dos remédios. Segundo a Polícia Civil, havia uma divisão de tarefas, com um líder, um farmacêutico e um sócio que dava apoio logístico à empresa. Três homens estão presos e duas mulheres respondem em liberdade. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos investigados.

As investigações duraram dois anos e começaram quando um paciente no Piauí parou de sentir os efeitos colaterais do Sutent. “Essa medicação causa moleza no corpo, astenia. Causa queimação das extremidades, problemas intestinais. Depois, o organismo vai eliminando a medicação e você começa a se reerguer. Comecei a tomar a medicação [falsa], só que eu não desenvolvia nenhum daqueles sinais”, disse o paciente, que não quis ter a identidade divulgada.

Ele avisou ao hospital onde se tratava, que procurou o laboratório Pfizer, que fabrica o Sutent. A empresa disse que não produziu os lotes apresentados.

A Pfizer informou que, desde o início, apoia as investigações e que é solidária com as famílias dos pacientes afetados.

A Polícia Civil, então, começou a investigar o caso. A sede da empresa fica em São Paulo. No local não foram encontrados medicamentos.

Porém, foram encontradas notas fiscais que simulavam a entrada dos remédios para que posteriormente fosse vendida.

Entre os documentos apreendidos estava a venda do lote falso para o Ingoh, em outubro de 2017. Na nota consta que o lote vendido foi o 189EE. O mesmo produto foi dado a Ozeas.

A Polícia Civil ainda não conseguiu identificar onde fica o laboratório que fazia as falsificações.

“Um homem que trabalhou a vida inteira para morrer de uma forma tão cruel. Tão difícil. É doloroso. Até hoje. E eu acho que essa dor não vai acabar nunca. Nunca”, disse Ozeas Júnior.

 

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