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15/09/2019 às 20h00min - Atualizada em 15/09/2019 às 20h00min

Missão salesiana completa mais de 100 anos e pacificou conflito de índios e fazendeiros na região de Barra do Garças

Missionário Luiz Wurstle faz parte da missão que chegou bem antes dele ao estado e foi pelas águas do Rio Cuiabá em 1894. Além da missão de evangelizar, os missionários construíram usinas e estradas.

Elias Neto, TV Centro América
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Missionários da Missão Salesiana, da religião católica, se mudaram para Cuiabá com a intenção de promover a pacificação entre índios e fazendeiros, que viviam em conflito por terra. Eram registradas muitas mortes de ambas as partes. O missionário Luiz Wurstle contou um pouco da história.

O missionário contou que o pároco da cidade onde ele nasceu, na Alemanha, comentava sobre missões na África. Por conta das histórias, decidiu se tornar missionário. Para isso teve que aprender as profissões de eletrotécnico e marceneiro, estudou na Escola Salesiana na Baviera e foi enviado para Mato Grosso em 1957.

“E aqui [Mato Grosso] começamos a trabalhar nas missões. Me mandaram instalar um locomóvel de uma máquina a vapor de 200 anos. Também começamos a construir usinas”, contou Luiz.



Além da missão de evangelizar, os missionários construíram usinas e estradas. Luiz contou que ainda constrói poços em aldeias. Ele faz parte de uma missão que chegou bem antes dele ao estado e foi pelas águas do Rio Cuiabá em 1894, nos tempos em que era preciso enfrentar as estradas no lombo de cavalo para percorrer as regiões para evangelizar.

Padre Hermenegildo Conceição Silva, diretor geral do Colégio Salesiano Santo Antônio, contou que a Missão Salesiano com destino a Cuiabá nasceu a partir de um convite de Dom Bosco que conversou pessoalmente com o bispo da época, Dom Carlos D’amour, quando foi à Itália. E o desejo era promover o encontro entre missionários e os indígenas.

O professor Franco Garcia contou como foi o primeiro encontro dos missionários com os índios. Segundo ele, a tentativa não foi bem sucedida, nem com indígenas e até com os militares que dominavam a Colônia Tereza Cristina no interior do estado na época.

“Um padre era colocado acima do Exército que comandava a polícia da região e daí começa a ter um conflito de interesse. Quando o padre viaja e entra outros Salesianos na colônia, os militares responsáveis não aceitaram a figura do padre e eles saem”, contou.

Em 1902 a missão foi retomada e seguiu em direção a Barra do Garças na procura pelos índios bororos. A estratégia dos salesianos foi firmar acampamento e aguardar que os indígenas os procurassem, percebendo o caráter de pacificação que os missionários queriam estabelecer com os índios, contou Franco.

À época, índios e fazendeiros viviam em conflitos, houve assassinatos em massa de indígenas, aldeias queimadas, sem piedade nenhuma. Era uma briga violenta, conforme um lado atacava, o outro revidava, disse

Franco explicou que a pacificação dos indígenas era de interesse do estado, pois queria que estradas fossem criadas para as instalações das linhas telegráficas. Pois era fundamental a paz e harmonia entre indígenas e fazendeiros.

Os missionários tiveram grande atuação no estado e começaram na educação e pesquisa. A partir disso montaram a primeira estação meteorológica que ainda funciona e está localizada na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Luiz é um dos mais antigos desbravadores. Tem mais de 80 anos e continua trabalhando. Mora no mesmo lugar de quando chegou na cidade, na casa onde Dom Aquino Corrêa estudou. O trabalho que ele já fez ganhou reconhecimento do governo da Alemanha, de entidades brasileiras, do Banco do Brasil e já recebeu o título de cidadão mato-grossense.

O missionário conta que os índios querem energia solar nas aldeias, mas ele considera que água é mais importante para os índios. “Chegou o projeto Luz para Todos, mas eu acho que devia ter chegado um projeto ‘água para todos’, porque água é muito mais importante do que a luz”, manifestou.

Quando está em Cuiabá, Luiz é um inventor. Fabrica máquinas para trabalhar no campo, pois encontrou uma forma simples de fazer água subir até a caixa. Ele criou uma gangorra, que faz sucesso entre as crianças dos parques. A gangorra bombeia água para a caixa e 74 aldeias de Mato Grosso foram beneficiadas com essa invenção.

As invenções ecologicamente corretas foram reconhecidas pelo Banco do Brasil. Outro exemplo é uma bicicleta, que quando está pedalando, fazendo exercício físico, mas, ao mesmo tempo, bombando água para um reservatório.

Um dos mais antigos missionários e independente da idade continua trabalhando na missão e na ajuda aos índios. Ele afirma que é bom ser reconhecido, mas diz que honrarias não constroem poços e que é preciso trabalhar.

“Quando entrei no noviciado era dia de Cristo Rei e prometi para esse Cristo Rei que seria soldado dele. Agora passaram 61 anos e acho ainda que sou soldado de Cristo e vou seguir muito ainda nesta missão”, contou, emocionado.

Mestre Luiz, como é conhecido, mora no Patronato Santo Antônio, lugar onde Dom Aquino estudou para seguir a vida religiosa. Alguns governos, como o da Alemanha, enviam dinheiro para ele desenvolver o trabalho em Cuiabá e em Mato Grosso.

A Missão Salesiana, um dos patrimônios da Cultura, e celebrado nos 300 anos de Cuiabá completados neste ano.
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