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11/03/2019 às 22h04min - Atualizada em 11/03/2019 às 22h04min

Garoto de Mato Grosso que estudava debaixo de árvore é aprovado na USP

Estudante, que morava em Nova Monte Verde, preferiu permanecer em universidade privada

MIDIANEWS
ARAGUAIA NOTÍCIA


Estudante de escola pública desde o 9º ano do Ensino Fundamental, Rafael Pinheiro, de 18 anos, foi aprovado, pela segunda vez em um curso da Universidade de São Paulo (USP). Recentemente, ele foi aprovado em Direito na instituição, uma das mais importantes do País.
 
O jovem estudou na Escola Estadual Neide Enara Sima, em Nova Monte de Verde (a 920 km de Cuiabá), Município em que morou até se mudar para São Paulo, onde atualmente cursa o segundo ano de Direito no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), que fica em Engenheiro Coelho, Município a 160 km da capital.
 
“Completei o ensino médio na Escola Estadual Neide Enara Sima. Sempre fui um bom aluno, tirava boas notas e sempre tive o costume de me dedicar aos estudos”, lembra.
 
Até o 8º ano, Rafael estudou em escolas particulares. Quando a família se mudou de Goiás para Nova Monte Verde, ele precisou se adaptar à nova realidade em uma escola pública.
 
“Quando fui para a escola pública, tinha algumas desvantagens. Às vezes não tem aula, outras vezes faltam professores em algumas matérias”, lembra.
 
Apesar das dificuldades, o jovem decidiu focar em se dedicar aos estudos com as possibilidades que lhe eram acessíveis no momento.

Como fazia muito calor e a casa dos pais não tinha aparelho de ar condicionado, Rafael costumava levar os materiais para o quintal e estudar debaixo de pé de manga.
 
“No período de contraturno, a escola me ofereceu uma sala para estudar, porque em Mato Grosso é muito quente e em casa não tinha ar-condicionado. Então era complicado”, lembra.
 
O jovem diz ser grato ao corpo docente da escola de Nova Monte Verde. De acordo com ele, muitos professores foram importantes em seu crescimento intelectual.
 
“Os professores sempre me ajudaram. A escola teve uma grande participação, sou muito grato. Também tive uma base familiar muito boa, tive algumas vantagens no caminho”, avalia.
 
Rotina de estudos
 
Em casa, ele conta que, desde criança, sempre conviveu com livros e foi estimulado a estudar pelo pai, que é professor, e a mãe, que sempre esteve presente na vida escolar.
 
“Cresci num ambiente que me condicionava a estudar de alguma forma. Meu pai é professor e minha mãe sempre me incentivou”, diz.
 
Rafael também contou que, como sempre morou em cidades de porte médio e grande - quando vivia em Goiás -, não foi acostumado a brincar na rua.
 
Desde criança criou o hábito de “devorar” os livros da família.
 
“Em casa sempre teve muito livro, criei o hábito de ler bastante. Acho que quando temos facilidade para leitura, conseguimos acessar o conhecimento sozinho”, explica.
 É um internato, moramos dentro da faculdade, que é confessional. Temos cultos com pastores, portanto é um lugar bem diferenciadoAinda no 1º ano do Ensino Médio, ele começou a se dedicar aos estudos para o fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na primeira tentativa, Rafael alcançou 640 pontos.
 
“Na segunda tentativa, comecei a estudar de uma maneira metódica e minha nota subiu cem pontos”, conta.
 
Quando estava no último ano do Ensino Médio, Rafael conseguiu aumentar ainda mais sua nota. Com 765 pontos, o jovem foi aprovado em Física, na USP.
 
“Fiz um ano do curso, mas decidi não ficar, porque descobri que não queria ser cientista. Foi quando mudei para um curso de Direito na Unasp”, contou.
 
Com a média, Rafael contou que conseguiria ser aprovado em Medicina, em várias universidades públicas do país, mas o curso nunca foi almejado por ele.
 
“Nunca gostei muito de biologia. Não tentei fazer Medicina, porque no final seria um profissional medíocre. Estudaria uma coisa de que não gostava”, lembra.
 
Em 2019, Rafael conseguiu alcançar 783 pontos no Enem e foi aprovado no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para o curso de Direito na USP, na modalidade de cotas para estudantes do ensino público independente de renda.
 
Decisão
 
Apesar de ter sido aprovado na USP, Rafael optou por seguir os estudos na Unasp.
 
“Para estudar na USP, teria que morar na Capital, no Centro de São Paulo. Seria uma rotina mais estressante. É óbvio que teriam muitas vantagens, mas colocando na balança decidi continuar estudando na Unasp”, conta.
 
Quando prestou o Enem, em 2018, Rafael pretendia concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (Prouni), para continuar estudando na Unasp, que é uma faculdade particular.
 
“No final acabei não conseguindo a bolsa. O Prouni tem duas modalidades, de 50% e 100%, mas lá em casa somos três pessoas e a renda média ficava acima da exigida”, explica o jovem.
 
Após conversar sobre a situação com alguns professores da Unasp, Rafael acabou conseguindo a bolsa desejada, além de oportunidades em projetos de pesquisa e monitoria.
 
“Fiquei na dúvida sobre ir para a USP ou não, fiquei 'balançado'. Mas acabei conseguindo a bolsa aqui [na Unasp] mesmo, que envolve pesquisa e monitoria, isso me empolgou. Talvez não tivesse essa oportunidade na USP”.
 
Como é evangélico adventista, Rafael encontrou na instituição uma oportunidade de usufruir de uma estrutura “diferenciada” no quesito universidade.
 
“É um internato, moramos dentro da faculdade, que é confessional. Temos cultos com pastores, portanto é um lugar bem diferenciado, vemos poucos lugares assim”, conta.
 
 
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