Por dois meses, Kainer Henrique Borges Coelho, 13 anos, estudou com afinco para passar na prova de seleção de alunos para a Escola Militar Tiradentes Cabo PM José Martins de Moura, em Confresa. No dia da prova, ele confessa que ficou um pouco nervoso, mas passou pelas questões com facilidade e conseguiu a aprovação. Agora, se diz contente em poder usar o uniforme cheio de adereços e ainda integrar um grupo seleto formado por cerca de 2,5 mil estudantes em Mato Grosso e 264 no município dele. “Alguns não conseguem ser aprovados. Todos querem vir para cá porque o ensino é bom, tem as músicas, a organização e as atividades. É muito diferente das outras escolas que passei”.
Um tio, que é policial militar, falou sobre a escola e logo o menino se interessou. As primeiras informações vieram pela Internet. Pelos vídeos do YouTube, ele teve contato com a rotina de unidades em outras partes do país e ficou impressionado com as atividades esportivas, os gritos de guerra e os resultados obtidos pelos alunos nas provas de acesso a universidade.
Quanto ao futuro, o jovem ainda não se decidiu, mas está se preparando para qualquer opção. Por meio das aulas, ele descobriu ter aptidão para biologia e geografia. Pensa em ser biólogo ou veterinário, porém não descarta a possibilidade de dar sequência à vida militar. “Eu acho legal os exercícios e o trabalho. Vi um vídeo onde eles treinavam para pular de paraquedas. Acho isso muito legal”.
Atualmente, além das disciplinas presentes na grade curricular, Kainer está na turma de xadrez e já foi convidado pelos professores para fazer parte do curso de música. Ele conta que praticou Muay Thai no ano passado, mas o professor foi transferido de cidade, o que suspendeu as aulas.
Desde que se matriculou, Kainer conta que muita coisa mudou na sua rotina. Primeiro com relação às atividades extraclasse, como tarefa e esporte. “Eles cobram os exercícios e trabalhos e somos pontuados. Então, chego em casa e já faço tudo logo. Quando tenho dúvida, pergunto para minha mãe”.
A mãe do estudante, Daniela Borges dos Santos, 36 anos, conta que o filho mudou muito desde que entrou na escola há um ano e meio. Hoje ele é exemplo para os irmão mais novos, de 7 e 2 anos. As diferenças começaram a ser notadas na organização e disciplina. “Percebo que ele está preocupado em concluir as tarefas de casas, é mais atencioso com os irmãos e não deixa de lado as atividades da escola, como as tarefas, trabalho e o cuidado com o uniforme. Ele sabe que precisa estar sempre limpo e passado para não ser chamado atenção.
Na opinião de Daniela, uma das vantagens da escola é a valorização da participação dos pais. “Lá, sou sempre bem recebida. Vejo que não tem tratamento diferenciado entre as famílias com situação financeira melhor. E até mesmo as penalidades são apresentadas e justificadas”.
Kainer recebeu uma advertência ano passado e Daniela disse que foi uma intervenção muito importante na vida dele e o ajudou a ser uma pessoa melhor, aceitar as diferenças e ainda aceitar melhor a cor da pele dele. “Ele tinha problemas de autoestima por causa da pele. Hoje, vejo que ele aprendeu que ninguém é igual e nem por isto é menos importante”.
O estudante foi repreendido porque chamou uma colega da sala de 'machinho' porque ela tinha cortado o cabelo bem curtinho. Na mesma hora, ele foi repreendido pelo comentário ofensivo e após conversar com o diretor, percebeu que o que fez não era uma brincadeira inocente. “Ele ficou muito triste com ele mesmo e foi pedir desculpas para menina e na conversa, descobriu que a menina cortou o cabelo para fazer uma peruca para o irmão que estava com câncer. Aquilo foi mais forte que qualquer castigo. O arrependimento foi marcante e hoje, eles são muito amigos”.
Outro ponto importante da educação oferecida pela escola, segundo a mãe, são os trabalhos frequentes sobre filosofia, reciclagem, respeito às religiões, família, bullying e drogas. Todos atuais e essenciais para a formação do caráter das crianças. “Nossa cidade é privilegiada por ter a escola militar”.
Escola militar em números – Até o começo de 2017, Mato Grosso tinha apenas a Escola Militar Tiradentes de Cuiabá, com capacidade para 1.200 alunos e, desde então, outras sete unidades foram construídas nas cidades de Confresa, Sorriso, Juara, Nova Mutum, Rondonópolis, Alta Floresta e Lucas do Rio Verde. Juntas, elas atendem 1.294 alunos no interior do Estado.