Denúncias de um suposto comércio de espaços no cemitério Nossa Senhora das Graças, em Barra do Garças, estão sendo investigadas pela 1ª Delegacia da Polícia Civil. A peça foi instaurada a pedido da Prefeitura depois de insinuações de que restos mortais estavam sendo removidos para novos enterros. O cemitério está com a capacidade de sepultamento esgotada e essa seria a única forma de abrir "novas" vagas.
De acordo com o delegado Adriano Alencar, que preside o inquérito, o memorial está na fase de diligências, oitivas e perícia. Ele ressaltou que não há registro de denúncias feitas por familiares na delegacia. "Estamos realizando os procedimentos investigatórios para verificar se os fatos procedem. Por enquanto não podemos declinar o que foi apurado para não atrapalhar o andamento dos trabalhos", disse.
A abertura de inquérito partiu depois de vários fatos que teriam ocorrido no cemitério e pela postagens em redes sociais de fotos de ossos supostamente retirados do local. A Câmara também solicitou da prefeitura medidas para apurar as denúncias que também chegaram aos vereadores.
Medidas Além de solicitar a abertura de inquérito policial, a prefeitura criou um órgão específico para cuidar dessa área: a Coordenadoria de Fiscalização e Postura do Solo, órgãos vinculado à secretaria de Urbanismo e Paisagismo, que terá como objetivo, fiscalizar os dois cemitérios públicos existentes na cidade e a Casa de Velório, espaço destinado para que as famílias possam velar seus entes queridos. O órgão será coordenador pelo sargento aposentado da Polícia Militar, Valdecy Francisco da Silva.
Embora a Polícia Civil não tenha citado nomes, o administrador do cemitério, Valdivino Alves Nerys já foi ouvido no inquérito e negou a existência de qualquer tipo de comércio ou a remoção de ossos para a abertura de espaços para novos sepultamentos. Botinho, como é conhecido, também negou ao #RDNews.
Segundo ele, o que está ocorrendo é um ato de perseguição. "Estou há 30 anos no cemitério e sempre foi alvo desse tipo de denúncia. É tudo mentira. O cemitério já passou por fiscalização e lá você não encontra sequer uma asa de caixão velho, algo que é comum em cemitérios antigos. Quem quiser pode entrar na área e verificar. O que querem é me tirar de lá", respondeu.
O administrador desmentiu também denúncias de venda de espaços no cemitério. “O que ocorre são cobranças de pedreiros com autorização dos familiares para a construção dos jazigos ou lajes nos dois cemitérios. Isso é normal, pois, a opção é dos próprios parentes. Jamais houve cobrança para garantir espaços com a retirada de quem já foi sepultado. É ilegal e estaria infringindo a lei”, se defende.
Procedimento
O administrador revelou que existe um procedimento normal no cemitério que é a remoção de restos mortais a pedidos de famílias para o sepultamento de outro parente no jazigo familiar. "Isso ocorre em qualquer cemitério. Os restos são removidos da urna, colocado em um recipiente plástico e deixado no túmulo, enquanto os materiais como a madeira e vestes são incinerados. Mas, jamais deixados a céu aberto", disse.
Um senhor de 61 anos, que visitava o túmulo do filho sepultado no cemitério há pouco mais de dois anos, disse ao #RDNews ter avistado restos mortais depositados em um saco plástico, porém, afirmou que o fato tinha o conhecimento de um parente que ‘teria’ autorizado o ato para que abrisse uma vaga no jazigo da família para o sepultamento de outro membro da família.
“Até que ponto é certo ou errado, eu não sei. Só achei estranho, mas como tinha sido a pedido desse parente, não levei em consideração. Acho que tudo deve ser investigado”, disse o visitante, que preferiu não ser identificado.
Túmulos destruídos
Além das denúncias em fase de apuração, o que chama à atenção é a grande quantidade de túmulos praticamente à céu aberto no cemitério. Botinha justifica que o município não é autorizado a promover reformas nas lajes danificadas. Segundo ele, cabe a prefeitura zelar pela limpeza geral.
“A conservação dos túmulos cabe as famílias. Nos meses que antecedem ao Dia de Finados, alertamos para a necessidade de realizar reparos em vários jazigos, no entanto, poucos atendem aos pedidos. Os que são sendo cuidados estão em ótimo estado. Infelizmente, os que não são apresentam danos e de quem é a culpa? Do município não é”, afirmou.
Fiscalização O novo coordenador de Fiscalização e Postura do Solo, Valdecy Francisco ressaltou que desconhece denúncias de remoção de ossos no cemitério central para o comércio de espaços, porém, prometeu uma fiscalização rígida para que fatos dessa natureza não venha a ocorrer. “Estamos assumindo com a finalidade de fiscalizar e fazer cumprir a lei. Afinal, o cemitério é a última morada do ser humano e exige que haja respeito com aqueles que partiram para outro plano”, disse.
Além do cemitério Nossa Senhora das Graças, Barra do Garças possui ainda o cemitério Jardim Nova Barra, localizado no bairro do mesmo nome, que já está com sua capacidade já quase esgotada e medidas já estão sendo tomadas para a sua ampliação.