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08/03/2018 às 11h53min - Atualizada em 08/03/2018 às 11h53min

Uma delegada de coragem a frente da Polícia Civil na fronteira oeste de MT

No quadro da Polícia Civil são 940 policiais femininas, 38 delegadas, 397 escrivães, 505 investigadoras

Assessoria / PJC - MT
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Foto: Assessoria Polícia Civil
Em onze municípios do polo regional de Cáceres quem administra as atividades da Polícia Judiciária Civil é uma mulher, a delegada Cinthia Gomes da Rocha Cupido. A autoridade policial, se considerada justa com as pessoas  investigadas e companheira dos servidores. Se define como uma delegada operacional, que procura estar presente em todas as missões, da menor a maior, principalmente em ambientes hostis.

"Não vivo em gabinete. Se dou uma missão aos investigadores no sábado às 23 horas, eu vou junto. É muito fácil determinar uma diligência às 11 horas da noite, e eles deixarem suas famílias em casa e eu ficar de boa, enquanto estão no mato se ‘ferrando’. Quando dou uma missão desconfortável eu vou junto", assegura Cinthia Cupido.

Na repressão à criminalidade, afirma ser justa, aplicando ao investigado a penalidade proporcional ao crime cometido. "Sou uma delegada justa. Não sou linha dura. Caiu na minha mão vai ser penalizado do que jeito que tem que ser. Não me apaixono pelo caso, não persigo ninguém. Prendi o cara, faço o flagrante, faço meu trabalho. Vejo número, não vejo pessoas. Se preciso, prendo 10 vezes. Quando a pessoa não deve, não deve. Mas quando deve, vai pagar na proporção, nem mais, nem menos", observa.   

A delegada Cinthia Cupido é uma das mulheres representantes do quadro da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, que conta atualmente com 940 policiais femininas, divididas em 38 delegadas, 397 escrivães e 505 investigadoras de polícia.

Vocação policial

Natural da cidade de Santos, em São Paulo, filha de dona de casa, pai engenheiro e caçula de dois irmãos (um engenheiro e outro comerciante), Cinthia afirma ter descoberto a vocação policial quando, ainda na faculdade, foi estagiar em uma delegacia de polícia, em Santos. "Ali percebi que tinha vocação para delegada".

Após terminar a faculdade, foi morar em São Paulo, fez curso preparatório na Escola Damásio, estudando por quatro anos direcionada à carreira de delegado. Nesse período  prestou concurso nos estados do Acre, Sergipe e Mato Grosso. "Como São Paulo é um estado onde o policial não é muito valorizado, eu sabia que não ia voltar para casa, que iria ser delegada em outro estado. Comecei a prestar concurso, até que chegou  o momento que passei em Mato Grosso", conta.

Integração

Em Mato Grosso, foi aprovada no concurso da Polícia Civil em 2005 e ingressou na instituição em 30 de março de 2007. Após mais de cinco meses de academia, foi lotada na Delegacia de Apiacás (1.010 quilômetros ao Norte de Cuiabá). Sem nenhum conhecido na cidade, chorou durante quatro dias, mas logo superou as dificuldades do início da carreira e seguiu adiante, permanecendo no município por nove meses.

Em 2008, foi comandar a Delegacia de Sapezal, onde literalmente casou com a polícia. No município conheceu seu marido, o sargento da Polícia Militar João Noel Alves de Lima, que está lotado no Grupo Especial de Fronteira (Gefron). Essa união, que começou na profissão e passou para a vida pessoal, só veio confirmar a importância da integração das forças policiais, principalmente, para quem está no interior do estado.

“Isso aprendi com meu marido.  Sempre trabalhei integrada.  Em Sapezal, a Delegacia fica ao lado do Núcleo da Polícia Militar. Quando  conheci meu marido, em 2009, comecei a viver dentro da Polícia Militar.  O efetivo da unidade era de quatro investigadores, percebi que a invés de quatro poderia ter mais quinze PMs comigo. Sempre trabalhamos integrados e essa é uma relação tranquila, de respeito às atribuições de cada um”, pontua.



No começo de 2015, quando seu marido foi transferido para o Grupo Especial de Fronteira (Gefron), em Porto Esperidião, ela também foi trabalhar em Cáceres e lá atuou na antiga Delegacia Municipal e na Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, até que foi nomeada, em dezembro do mesmo ano, como delegada regional de Cáceres, mantendo a filosofia de integração com todas as instituições de segurança.

“Não tem como ser diferente. Trabalhamos com todas as forças - Polícia Civil, PM, PRF, Bombeiros, Politec, Sistema Prisional, Gefron. Estamos em uma região de fronteira, onde rola muito dinheiro. Uma apreensão de 50 quilos de pasta base tira mais de 600 mil da pessoa. A possibilidade de ter uma represália é muito grande. Então, a gente se une ou morre. Ou perdemos nossa força aqui”, analisa.

Na fronteira, além da administração da Delegacia Regional cuida também da Delegacia de Fronteira (Defron), inaugurada em 31 de janeiro de 2017. O papel da Defron é trabalhar, de forma integrada, com informações de inteligência para atacar as organizações criminosas, os verdadeiros “chefões” do tráfico de drogas. “Não adianta apreender drogas, se não conseguimos mexer no financeiro dessas organizações e a Defron veio para isso”, frisa Cinthia.

Discriminação x profissionalismo

Em meio ao efetivo da Delegacia Regional, predominantemente masculino, ela diz ser tranquilo lidar com os servidores. É ela e apenas mais uma delegada (Judah Maali Pinheiro Marcondes) em todas as dez unidades da PJC no polo, que compreendem 11 municípios (Cáceres, Araputanga, Mirassol D’Oeste, Porto Esperidião, São José dos Quatro Marcos, Rio Branco, Glória do Oeste, Salto do Céu, Lambari D’Oeste, Reserva  do Cabaçal e Indiavaí).

"Na Polícia Civil, nos últimos concursos, está entrando bastante mulheres:  investigadoras, escrivãs e delegadas.  Não vejo discriminação, porque é uma mulher ou homem. No cargo de delegado estão vendo não o sexo, mas a competência.  Tenho aqui a  delegada Judah, uma mulher muito competente. As pessoas gostam de trabalhar com ela pelo seu profissionalismo. Existem mulheres que são mais competentes que homens ou tão quanto. Tenho a investigadora Marta (da Regional), que dá de dez a zero em qualquer um”, observa.

No trabalho, acredita que o diferencial está em escutar as pessoas, valorizar os mais antigos, aqueles que estão mais tempo na profissão, sendo ele delegado, investigador ou escrivão. “Sou apaixonada pelo que faço, me considero uma liderança. Dou valor às pessoas que estão dentro dessa profissão. Sou nova, tenho 10 anos de polícia, estou na classe C, e trabalho com muitos policiais da classe Especial. Dou  valor e escuto opinião das pessoas mais antigas”.


Foto: Gcom-MT/José Medeiros


Delegada de bota


A característica peculiar da delegada Cinthia Gomes da Rocha Cupido é a bota, que usa todos os dias para trabalhar. Mais que estilo, a bota também está associada à sua personalidade forte, da mulher que comanda a região, onde o efetivo, não somente o da Polícia Civil, como de toda a Segurança Pública, é constituído mais de homens.

Devido ao calçado, pouco comum para quem mora num estado de altas temperaturas, ficou conhecida como a "delegada de bota". Mas ela assegura que tem uma explicação e afirma usar somente quanto está trabalhando. A delegada tem oito botas em seu guarda-roupa.

“Quando saí de Santos e fui conhecer Apiacás cheguei de sapato alto e calça social, toda 'patricinha'.  Um investigador olhou para mim  e  perguntou: Doutora a senhora vai assim? Quando voltei de Apiacás minha calça estava toda suja de barro, meu pé cheio de poeira. Tinha uma investigadora que já usava bota e entrou junto comigo. Então passei também a usar bota, mas não era essas de cano alto para fora. Depois fui para Sapezal e lá voltei a usar sandálias, mas eu ia muito para rua e tinha lama. Um dia fui entrar em uma casa e tive que entrar descalça. A partir daí não tirei mais a bota, por causa do trabalho”, finaliza. 


 

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