A ex-servidora pública Tatiana Sangalli Padilha, que era amante do ex-secretário da Casa Civil de Mato Grosso, Paulo Taques, foi arrolada como testemunha de defesa do cabo da Polícia Militar Gerson Corrêa Júnior, que está preso desde maio do ano passado, acusado de participar do esquema de grampos no estado.
O depoimento dela foi solicitado pela defesa de Gerson depois que Paulo Taques, é primo do governador Pedro Taques (PSDB), foi dispensado de depor diante da alegação de que advoga para dois investigados no esquema. Ele atua em defesa de Pedro Taques e do ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Siqueira.
A susbtituição dos depoimentos foi autorizada na sexta-feira (2) pelo juiz Murilo Mesquita, da 11ª Vara Militar de Cuiabá.
"Não insistimos no depoimento dele, porque viraria uma briga, e o Gerson sugeriu que ela fosse chamada, pois tem perguntas a fazer à ela", afirmou o advogado do cabo, Neyman Monteiro.
Se for intimada a tempo, Tatiana poderá prestar depoimento nesta sexta-feira (9), quando outras pessoas arroladas como testemunhas do policial devem ser ouvidas no processo que investiga a conduta de militares. A outra investigação tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Ainda devem ser ouvidos o tenente da PM José Conceição dos Santos, que denunciou a tentativa de prejudicar as investigações quando ainda estavam no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), sob a relatoria do desembargador Orlando Perri; o policial civil Rafael Meneguini, lotado no Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que trabalha com interceptações; o governador Pedro Taques, o coronel Airton Siqueira, e os delegados da Polícia Civil, Flávio Stringuetta, Alana Cardoso, Alessandra Saturnino e o ex-secretário de Segurança Pública do estado, Rogers Jarbas.
Além do cabo Gerson e do coronel Zaqueu, são réus o ex-secretário da Casa Militar, coronel Evandro Lesco, e o ex-adjunto da Casa Civil, coronel Ronelson Barros, e o tenente-coronel Januário Batista.
Eles respondem pelos crimes de ação militar ilícita, falsificação de documento, falsidade ideológica e prevaricação, previstos na Legislação Militar.
Relacionamento Em julho do ano passado, Tatiana Sangalli afirmou, em depoimento ao delegado Flávio Stringuetta, que fazia parte da equipe do Judiciário estadual que investigava os grampos, que sabia das interceptações clandestinas e que desconfiava que o telefone dela também tivesse sido interceptado.
Ela disse ter mantido um caso extraconjugal com Paulo Taques entre 2009 e 2015 e que o acompanhava durante alguns compromissos profissionais dele, inclusive campanhas eleitorais. Paulo Taques sempre negou essa relação com Sangalli.
Tatiana citou a realização de "gravações clandestinas" durante a campanha para a eleição do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso (OAB-MT), em 2012.
Ela trabalhou como comissionada na Casa Civil.
Telefone 'grampeado' Ela afirmou, no depoimento, que já desconfiava que o seu número de telefone havia sido grampeado antes mesmo do esquema vir à tona, pois a amiga dela e ex-assistente de Paulo Taques na Casa Civil, Caroline dos Santos, disse que havia perdido o cargo "porque as duas haviam sido grampeadas e sabiam de tudo o que estava acontecendo".
Ao ser mandada embora, a ex-assistente teria ouvido de Paulo Taques que ele "sabia das condutas dela e alegou que ela o estava traindo".
O esquema de grampos foi denunciado em maio deste ano pelo promotor de Justiça Mauro Zaque, que disse ter tomado conhecimento do caso quando ainda era secretário de Segurança Pública, em 2015.