Índios da etnia Enawenê-nawê foram flagrados fazendo a cobrança de pedágio na BR-174, região rodeada de duas terras indígenas, entre Juína, a 737 km de Cuiabá, e Rondônia. As imagens da TV Centro América mostram o momento em que um índio aborda uma equipe de reportagem, em um dos pontos de pedágio, e cobra R$ 50. O mesmo valor foi cobrado quando a equipe retornou para Juína e passou pelo trajeto onde já havia pago pelo pedágio.
Os índios pedem o pagamento de R$ 20 para motocicletas, R$ 50 para carros e caminhonetes e R$ 100 para ônibus e caminhões. O veículo da reportagem foi parado pelo indígena e a equipe gravou a cena. Um índio cumprimenta o motorista e anuncia o valor do pedágio.
Repórter- Quando paga? Índio- Cinquenta.
Após fazer o pagamento, a equipe recebe um recibo. O documento tem endereço, nome da aldeia e até telefones de contato. Com esse recibo é possível passar pelos outros dois trechos de cobrança sem ter que entregar dinheiro. No entanto, quando a equipe retornar, terá que pagar novamente o valor de R$ 50.
Os motoristas de caminhões e demais veículos que precisam fazer esse trajeto preferem seguir por outros caminhos e chegam a até aumentar a distância da viagem por conta disso.
“É muito caro, é abusivo. Hoje está difícil, ainda mais nessas estradas, motorista só sofre e ninguém vê a gente. Não tem ninguém por nós”, lamentou o caminhoneiro Tiago Amorim.
Recibo de pedágio de indígenas em Mato Grosso (Foto: Luiz Gonzaga Neto/TVCA)
Recibo de pedágio de indígenas em Mato Grosso (Foto: Luiz Gonzaga Neto/TVCA)
Mortes
A região onde os índios fazem o pedágio foi a mesma onde dois amigos, de 24 e 25 anos, foram sequestrados e mortos pelos Enawenê-nawê. Os amigos Genes Moreira dos Santos Júnior, de 24 anos, e Marciano Cardoso Mendes, de 25, foram mortos entre quarta-feira (9) e sábado (12) após terem sido sequestrados por índios da etnia Enawenê-nawê.
Irene dos Santos (Foto: Reprodução/TVCA)
Irene, irmã de Genes, diz que não se conforma com a morte do irmão (Foto: Reprodução/TVCA)
Os dois foram levados para a aldeia após uma desavença com os índios que cobravam pedágio na estrada, segundo acreditam as famílias das vítimas.
Aos três dias de desaparecimento, os corpos dos amigos foram entregues à Polícia Civil e a PF por índios Enawenê-nawê. As vítimas iriam para Rondônia para comprar roupas e revender em Mato Grosso.
A família e os amigos dizem que Genes foi morto a tiros e Marciano foi torturado pelos indígenas.
A irmã da Genes, Irene dos Santos, revela que o irmão nunca apresentou medo dos índios, já que com frequência passava pela rodovia. “Ele nunca revelou medo. Ele vinha de lá para cá, os próprios indígenas compravam cobertor, roupas e até mesmo lanterna. [Sinto] ódio e revolta, só passa o que não pode pela minha cabeça. Nunca irei me conformar da forma brutal e cruel que ele foi morto”, declarou.
Genes Moreira dos Santos Júnior (à esquerda) e Marciano Cardoso Mendes (à direita) (Foto: Arquivo pessoal)
A Fundação Nacional do Índio (Funai), em Juína, está fechada há mais de uma semana. Segundo funcionários da unidade, como retaliação às mortes, moradores depredaram a sede com tiros e atiraram pedras. Por conta do fechamento, os servidores são forçados a trabalharem em casa. A Funai em Brasília não se manifestou ainda sobre o pedágio e os assassinatos dos moradores.
A Polícia Fedral apura a mortee os demais acontecimentos na cidade, no entanto, decretou sigilo nas investigações. O delegado do caso, Hércules Ferreira Sodré, diz que identificou três suspeitos de envolvimento com o assassinato.
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