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30/05/2017 às 13h57min - Atualizada em 30/05/2017 às 13h57min

História e som de Branco Barros

Este músico talentoso morou em São Felix do Araguaia

Eduardo Ferreira
O que é sucesso para você? Ser bem sucedido em alguma carreira profissional? Ter fama? Ser badalado e frequentar as colunas sociais? Ser rico?

A palavra sucesso, principalmente financeiro, está cada vez mais associada a falcatruas e crimes, principalmente de corrupção. Vivemos um tempo no Brasil em que isso se escancarou de vez e vem colocando as grandes fortunas em xeque. É assustador perceber (ver e ouvir) a banalização da palavra milhão, e até bilhão. Falam de números exorbitantes para nossa vidinha aqui de trabalhador assalariado como se fossem trocados.

Por que digo isso?

Por que, ao contrário disso, me comove muito outras formas de sucesso na vida, mais leves na escala de valoração monetária do trabalho. Sim, por que parece que o trabalho ficou pequeno demais, remunerado de forma imoral diante do vilipêndio a que somos submetidos. Não é possível tangenciar isto. É preciso sim, ir ao coração dessa coisa-máquina que nos lança em seus jogos de vertigem e fazer sangrar até morrer. Estancar a insensatez que mata sonhos e possibilidades geradoras de vida e felicidade coletiva. É preciso destampar o sol e encher a vida de claridades.

Um cara que considero de sucesso, por exemplo, é o Branco Barros. Vamos lá, ele é músico brasileiro, trabalhador, honesto, seis filhos bem criados, uma história simples e digna, compositor e profissional da música. Ele participa de festivais de canções, (fatura alguns), nasceu em Ceres, GO, já morou na Região Araguaia, mais precisamente em São Félix do  Araguaia, atualmente mora em Cuiabá, hoje deve estar com pouco mais de 50 anos de vida. Branco é uma pessoa criativa e reflexiva, de olhar crítico e bem aguçado. Um cara que batalha o tempo todo para ser ouvido, apreciado ou não (somos livres), para cumprir uma trajetória de êxito, alcançar as pessoas. Mas, aí entram várias questões que problematizam a sua condição e a de milhares de músicos brasileiros: para isso temos que romper barreiras que muitas vezes são insuperáveis: desde as manipulações macro e micro da mídia, até o controle poderoso de produção e distribuição dos grandes aglomerados da indústria do entretenimento, em qualquer escala, que dirigem e repetem à exaustão os sons que digerimos diariamente em praticamente todos os meios de comunicação.

Hoje, as coisas melhoraram se levarmos em conta o território virtual, que também tem sua fatia manipuladora e manipulada. Não podemos menosprezar a política dos algoritmos que são criados secretamente para atender aqueles que podem pagar mais por isso. Mas quem já passou por tempos pré-digitais sabe que as dificuldades eram ainda muito maiores. Hoje as coisas estão mais à mão. Você pode produzir e fazer circular coisas fantásticas a custo muito baixos e acessíveis. Antes era escassez quase que total de aparelhos e aparatos tecnológicos. O desenvolvimento de multi meios e linguagens multiplicaram e muito nossa capacidade de produzir e criar mais. As relações são cognitivas e conectivas em toda sua extensão.

Viver como profissional das artes, ser um trabalhador da cultura e conseguir viver com isso dignamente é por si só um sucesso. Branco Barros, nosso personagem da vida real, sempre foi um cara de acreditar na solidariedade e na ética. Como ele mesmo diz num bom humor incrível: “Tive que cantar mais que todo mundo para conseguir criar meus filhos. Abria o show para depois fazer o meu próprio show.”

Vivem dizendo por aí que desonestidade é um caminho fácil de se desviar. Não dá para acreditar na cara de pau de quem ouse afirmar isso sem sentir nenhuma vergonha por isso. Nessas horas recorro a Honorè de Balzac: Atrás de toda fortuna há um grande crime.

Atrás de pequenas histórias de vida existem grandes realizações. Branco Barros trabalhou com Pedro Casaldáliga, personagem conhecido e reconhecido como uma das grandes histórias humanistas do Brasil. Trabalhou na Pastoral da Criança, teve o privilégio de conhecer e interagir com Zilda Arns. Percorreu mitologias indígenas, recorreu à poesia do rio Araguaia, cantou e canta a vida com sua capacidade de extrair beleza das coisas, e também de se indignar com a miséria e as injustiças sociais que solapam nosso país.

Aqui, volto a lhe perguntar: o que é sucesso para você? Precisamos refletir sobre isso, o que tem mais valor, o sistema financeiro ou o trabalho? A solidariedade social ou o individualismo que nos afasta a todos de nós mesmos? A dignidade de que somos capazes ou a nossa incapacidade de perceber o outro e sentir afeto e amor? Qual é a sua?

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