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17/03/2017 às 06h52min - Atualizada em 17/03/2017 às 06h52min

História da UFMT é marcada pelo pioneirismo de suas mulheres

Assessoria
A história da implantação e consolidação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) tem a peculiaridade de trazer em si o trabalho e o suor de inúmeras mulheres que conciliaram sua vida pessoal com o ensino, a pesquisa, a extensão e as atividades de gestão frente às unidades administrativas e acadêmicas da instituição. E muito antes da equidade ser uma palavra cheia de significados que transcendem sua essência terminológica, elas se tornaram exemplos para as atuais e futuras gerações de mulheres da UFMT. Ainda que algumas delas já não estejam mais entre nós, o legado de trabalho e superação resiste e, principalmente, inspira.

“Tenho o maior orgulho de ter lutado pela UFMT desde sua gênese, ter sido ex-aluna, feito três cursos de pós-graduação em nível de especialização e atuado como servidora técnico-administrativa”, resume Lucia Palma, que integrou os quadros da Universidade entre 1986 e 2011 e, dentre tantos outros serviços relevantes, fundou a Editora da UFMT e um dos principais nomes do Teatro Universitário, local onde se aposentou ofertando aulas de teatro e, inclusive, recebeu uma placa em homenagem.

Sobre o período anterior à fundação da UFMT, Lúcia Palma lembra que, estudante secundarista, integrou uma comitiva que foi até o Rio de Janeiro, sede do Ministério da Educação (MEC), levar uma proposta explanativa e um abaixo-assinado ao então ministro Tarso Dutra. O ano era 1968. “Eram momentos difíceis, delicado. Estudante que se prezasse não recorria ao Poder. Nós tínhamos consciência disso, éramos politizados”, recorda ela, acrescentando que o movimento de criação da instituições teve, ainda que contra os padrões da época, forte adesão de mulheres. “Foram mulheres conscientes e estudiosas”, define. 

No entanto, dentro de sua carreira na vida universitária, seu maior orgulho é, de fato, a criação da EdUFMT, missão que desempenhou durante a gestão do professor Augusto Frederico Müller Júnior, entre 1988 e 1992. A expertise foi adquirida em casa, durante os longos períodos passados dentro da Livraria União, ícone cultural de Cuiabá, de propriedade de sua tia. “Tenho o maior orgulho em ter criado a Editora da UFMT, embora não haja a menor citação em local algum nos registros da Instituição. Debrucei em uma pesquisa profunda em nível interno, nas nossas publicações e enviei cerca de 200 cartas às editoras oficiais, visitas a outras instituições, contato com editoras e personalidades como Antonio Houaiss”, recorda.

Posteriormente, ela coordenou o festival internacional de folclore, e integrou a Escola de Artes, onde encerrou sua carreira oferecendo cursos de teatro com duração de 15 dias nos Câmpus de Sinop, do Araguaia, de Rondonopólis e de Cuiabá.

Dos quatro anos de editora, como destaca, ficaram muitas lembranças para Lucia Palma e os filhos. “Só faltava levar a cama para dormir na UFMT. Trabalhei até alta madrugada durante esse período. Alguns originais lia dez vezes”, recorda. E quando questionada se havia valido a pena, mesmo destacando que encontrou barreiras neste trabalho, por ser mulher, ser técnico-administrativa e não ter formação na área editorial, não hesita: “Valeu muito a pena. Sou apaixonada pela UFMT”.

Pilar de sustentação

A docente Geralda Lopes da Silva também ocupa um lugar de destaque na construção da história da UFMT. Falecida em fevereiro deste ano, ela era professora emérita da Universidade desde 1989, conforme resolução do Conselho Universitário (Consuni). A titulação se deu em reconhecimento ao eminente desempenho das atividades acadêmicas.

A professora Áurea Christina de Paula Corrêa, diretora da Faculdade de Enfermagem (Faen), Câmpus de Cuiabá, foi aluna da professora Geralda na graduação. “Ela foi, por longo período, um dos pilares de sustentação do curso de Enfermagem da UFMT, nascido no contexto do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde enquanto Unidade Acadêmica. Considerada uma baliza na resolução de questões relativas à ética em saúde e ensino e prática de enfermagem. Além de ser uma das fundadoras do curso de Enfermagem, contribuiu para a criação do de Medicina”, explica.

A diretora da Faen também ressalta a atuação de sua professora dentro da Universidade. “Sua competência e empreendedorismo, mesmo que de maneira conservadora em função dos valores socais e culturais da época, abriu portas para que um dia nos consolidássemos como o principal curso de Enfermagem de Mato Grosso e um dos mais fortes da região”, afirma. “A professora Geralda foi parceira, ombro a ombro, com professores homens que trabalharam para a formação da embrionária UFMT, como os professores Gabriel Novis Neves, professor Leocarlos Cartaxo, Eduardo De Lamônica, entre outros”, completa.

A professora Áurea Corrêa também destaca que a docente perseguiu o ensino de um exercício profissional sustentado no conhecimento científico e sempre foi aberta aos investimentos para o futuro. “Posso dizer que a professora Geralda foi uma inspiração, um exemplo de profissional responsável, ética, uma verdadeira liderança forte na área da saúde, que abriu caminhos em universo ‘masculino’ na UFMT e serviços de saúde”, define.

Outra docente que se destacou pelo seu trabalho nas atividades fins da universidade – o ensino, a pesquisa e a extensão – é a professora Telma Cenira Couto da Silva, que atuou entre 1979 e 2011 no atualmente denominado Instituto de Física. “Foi meu primeiro emprego e tive uma vida dedicada à UFMT”, resume ela, que, ao chegar, era a segunda professora da área na universidade.

Segundo ela, que, dentre outras atividades, foi coordenadora de eventos e cursos de extensão, integrante de colegiado e de laboratório, conciliando as atividades de pesquisa e ensino, o segredo para enfrentar todos os desafios impostos para as mulheres, ao menos em seu caso, foi colocar amor em tudo o que fez. “Houve um pouco de preconceito de ser mulher e docente. Isso aliás, sempre aconteceu, porque esperavam mais homens na ciências, mas fiz o que tinha que fazer”, afirma. “Sou uma pessoa muito passional, com sangue cuiabano e raízes, leal aos amigos, à família, sobretudo na educação de minha filha, mas no trabalho sempre soube o que queria fazer”, acrescenta.

Sobre os desafios, a professora observa que tudo depende como encara e se impõe. “Depende da pessoa saber o que quer e se impor frente à situação. Sabia o que queria e sei que precisamos fazer sacrifícios. Sempre procurei relevar e fui fazer o que quero porque gosto e as pedras do caminho temos que contornar ou deixar para lá e tocar para frente. Levei o melhor que pude e teria feito tudo de novo”, finaliza.

Acompanhe o tema pela hashtag #MulheresnaUFMT

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